Livros de Jean de la Bruyere

Um devoto é aquele que, sob um rei ateu, seria ateu.

Sobre o Autor

Jean de la Bruyere

Jean de la Bruyere foi um célebre ensaísta e moralista francês. Sua obra "Os caracteres" é considerada um fiel retrato moral.

Melhores Livros de Jean de la Bruyere

Mais frases de Jean de la Bruyere

A falsa modéstia é o último requinte da vaidade.

Existem pais estranhos, dos quais a vida inteira não parece ocupada senão em preparar razões para os filhos se consolarem pela morte deles.

Não existe vício que não tenha uma falsa semelhança com uma virtude e que disso não tire proveito.

O avarento gasta mais no dia da sua morte do que gastou em dez anos de vida, e o seu herdeiro mais em dez meses do que ele na vida inteira.

Não se deve julgar o mérito de um homem pelas suas grandes qualidades, mas pelo uso que sabe fazer delas.

Desejamos fazer toda a felicidade, ou, não sendo isso possível, toda a infelicidade daqueles a quem amamos.

Quase ninguém se apercebe, por si próprio, do mérito de outra pessoa.

Todo o nosso mal provém de não podermos estar sozinhos: daí o jogo, o luxo, a dissipação, o vinho, as mulheres, a ignorância, a desconfiança, o esquecimento de nós mesmos e de Deus.

Não há no mundo exagero mais belo que a gratidão.

Aqueles que gastam mal o seu tempo são os primeiros a queixar-se da sua brevidade.

É mais vulgar ver um amor absoluto do que uma amizade perfeita.

Há encontros na vida em que a verdade e a simplicidade são o melhor artifício do mundo.

É preciso rirmos antes de sermos felizes, sob pena de morrermos antes de ter rido.

Até mesmo os homens honestos precisam de patifes à sua volta. Existem coisas que não se podem pedir às pessoas honestas para fazerem.

Os filhos seriam, talvez, mais caros a seus pais e, reciprocamente, os pais aos filhos, sem o título de herdeiros.

Um devoto é aquele que, sob um rei ateu, seria ateu.

Uma coisa essencial à justiça que se deve aos outros é fazê-la, prontamente e sem adiamentos; demorá-la é injustiça.

Há apenas duas formas de subir na vida: pelo nosso engenho ou pela estupidez dos outros.

O homem que vive na indiferença, é aquele que ainda não viu a mulher que deve amar.

É por fraqueza que odiamos um inimigo e pensamos em nos vingar; é por preguiça que nos acalmamos, desistindo da vingança.

A maioria das mulheres quase não têm princípios: conduzem-se pelo coração e, quanto aos seus costumes, dependem daqueles a quem amam.

O prazer mais delicado é o de dar prazer a alguém.

O amor começa pelo amor; não se pode passar de uma forte amizade senão para um amor fraco.

Entre todas as diferentes expressões que podem reproduzir um único dos nossos pensamentos só há uma que seja a boa. Nem sempre a encontramos ao falar ou escrever; entretanto, o fato é que ela existe, que tudo o que não é ela é fraco e não satisfaz a um homem de espírito que deseja fazer-se entender.

Um homem que acaba de arranjar um emprego já não faz uso do espírito e da razão para regrar a sua conduta e as suas atitudes perante os outros: toma de empréstimo a regra do seu posto e da sua situação; donde o esquecimento, a altivez, a arrogância, a dureza e a ingratidão.

Somos tão responsáveis por amar sempre como o somos por nunca amar.

Se a pobreza é a mãe dos crimes, a falta de espírito é o seu pai.

Ser-se livre não é nada fazer, é ser-se o único árbitro daquilo que se faz ou daquilo que se não faz.

É alcançar muito de um amigo se, tendo subido ao poder, ainda se recorda de nós.

A gentileza faz com que o homem pareça exteriormente, como deveria ser interiormente.

O ciúme nunca está isento de certa espécie de inveja, e frequentemente se confundem essas duas paixões.

O dever dos juizes é fazer justiça; a sua profissão, a de deferi-la. Alguns conhecem o próprio dever e exercem a profissão.

Não poder suportar todos os maus carácteres de que a sociedade está cheia não revela bom carácter: e isso é indispensável no comércio das peças de ouro e da moeda.

Quem afirma que não é feliz, poderia sê-lo com a felicidade do próximo, se a inveja lhe não tirasse esse último recurso.

Arrependemo-nos raramente de falar pouco, e muito frequentemente de falar demais: máxima usada e trivial, que todo o mundo sabe e que ninguém pratica.

Pensar só em si e no presente é uma fonte de erro em política.

O homem que diz não ter nascido feliz, podia ao menos vir a sê-lo mediante a felicidade dos amigos e parentes. A inveja priva-o deste ultimo recurso.

As coisas maiores só devem ser ditas com simplicidade; a ênfase estraga-as. As menores precisam de ser ditas com solenidade; elas só se sustentam pelo modo de expressão, pela atitude e pelo tom.

A tortura é uma invenção maravilhosa e absolutamente segura para causar a perda de um inocente.

Cada virtude apenas requer um homem; apenas a amizade requer dois.

Depois do espírito de discernimento, o que há de mais raro no mundo são os diamantes e as pérolas.

Entre todas as expressões diferentes que pode tomar cada um dos nossos pensamentos só há uma que seja boa.

Todo o espírito que existe no mundo é inútil para quem não o tem; ele não tem perspectivas sobre nada e é incapaz de aproveitar as dos outros.

A polidez nem sempre inspira a bondade, a equidade, a complacência, a gratidão; mas, pelo menos, dá-lhes a aparência e faz aparecer o homem por fora como deveria ser por dentro.

As crianças não têm passado, nem futuro, e coisa que nunca nos acontece, gozam o presente.

O homem honrado nunca jura; contenta-se com dizer: isto é ou isto não é. O seu carácter jura por ele.

A modéstia é para o mérito o que as sombras são para um quadro. Dão-lhe forma e relevo.

A demasiada atenção que se emprega em observar os defeitos dos outros, faz que se morra sem ter tido tempo de conhecer os próprios.

É a profunda ignorância que inspira o tom dogmático.

O interior das famílias é muitas vezes perturbado por desconfianças, ciúmes e antipatias, e enganam-nos as aparências de satisfação, calma e cordialidade, fazendo-nos supor uma paz que não existe; poucas há que ganham em ser aprofundadas.

A verdadeira inteligência consiste em dar valor à dos outros.

À força de fazermos novos contratos e de vermos o dinheiro crescer nos nossos cofres, acabamos por nos julgarmos inteligentes e quase capazes de governar.

Os lugares de chefia fazem maiores os grandes homens, e mais pequenos os homens pequenos.

Para mandar muito tempo e absolutamente sem alguém é indispensável ter a mão leve e, nunca lhe fazer sentir, por pouco que seja, a sua dependência.

O escravo apenas tem um senhor, o ambicioso tem tantos quantos lhe puderem ser úteis para vencer.

A troça é muitas vezes pobreza de espírito.

Há uma certa vergonha em sermos felizes perante certas misérias.

A maior parte dos homens utiliza a melhor parte da vida para tornar a outra infeliz.

No mundo, apenas há duas maneiras de subirmos, ou graças à nossa habilidade, ou mediante a imbecilidade dos outros.

O aborrecimento entrou no mundo pela mão da preguiça.

Para o homem, apenas há três acontecimentos: nascer, viver e morrer. Ele não sente o nascer, sofre ao morrer e esquece-se de viver.

O amor e a amizade excluem-se mutuamente.

É preciso que um autor receba com igual modéstia os elogios e as críticas que se fazem às suas obras.

Do ódio à amizade a distância é menor que do ódio à antipatia.

Tememos a velhice, à qual não temos a certeza de poder chegar.

A vida, quando é miserável, custa a suportar; se é feliz, é horrível perdê-la. Uma coisa equivale à outra.

Os homens desejam ser escravos em qualquer parte e colher aí a força para dominar noutro sítio.

Não se pode ir longe na amizade sem se estar disposto a perdoar os pequenos defeitos um ao outro.

Não construais estátuas aos vossos heróis, é melhor erguer estátuas ás vossas vítimas.

Já vi uma moça, uma linda moça, que dos treze aos vinte e dois anos sonhava em ser mulher e, daí por diante, desejava ser homem.

Enquanto os homens estiverem sujeitos a morrer, gostando de viver, os médicos serão metidos a ridículo e bem pagos.

Quanto mais nos aproximamos dos grandes homens, tanto mais percebemos que são apenas homens.

Há apenas duas maneiras de obter sucesso neste mundo: pelas próprias habilidades ou pela incompetência alheia.

A impossibilidade de provar que Deus não existe, é a melhor prova de sua existência.

É preciso um espírito especial para se fazer fortuna, sobretudo uma grande fortuna; não se trata nem do espírito bom nem do belo, nem do grande nem do sublime, nem do forte nem do delicado; não sei precisamente de qual se trata, e espero que alguém me possa esclarecer a tal respeito.

O amor dispensa palavras, já que os olhos sabem falar uma língua muito mais convincente. (Jean de La Bruyère)

O amor dispensa palavras, já que os olhos sabem falar uma língua muito mais convincente

O que é certo na morte talvez seja um pouco adocicado por aquilo que é incerto.

A morte só vem uma vez, mas se faz sentir em todos os momentos da vida.

O tempo, que fortalece as amizades, enfraquece o amor.

Entre o bom senso e o bom gosto está a diferença entre a causa e o efeito.