Entregou-se tanto ao vício da luxúria / que em sua lei tornou lícito aquilo que desse prazer, / para cancelar a censura que merecia.
Sobre o Autor
Dante Alighieri
Dante Alighieri (*Maio ou Junho de 1265 - 13 ou 14 de Setembro de 1321) é considerado por grande parte dos italianos como o seu poeta maior. Escritor italiano.
Entregou-se tanto ao vício da luxúria / que em sua lei tornou lícito aquilo que desse prazer, / para cancelar a censura que merecia.
Quanto maior é a sede, maior é o prazer em satisfazê-la.
Muito pouco ama, quem com palavras pode expressar quanto muito ama.
Puderam vencer em mim o ardor, / que me levou a conhecer o mundo, / e os vícios e as virtudes dos homens....
E tal, balbuciando, ama e obedece / à sua mãe, mas, quando adulto, / deseja vê-la enterrada.
Quem és tu que queres julgar, / com vista que só alcança um palmo, / coisas que estão a mil milhas?
A razão vos é dada para discernir o bem do mal.
Pois perder tempo desagrada mais a quem mais conhece o seu valor.
Em vida, / eu jamais teria sido tão cortês, / tal era o meu desejo de sobressair.
Em leito de penas / não se alcança a fama nem sobre as cobertas; / Quem a vida consome sem a fama, / não deixa de si nenhum vestígio sobre a terra, / qual fumo no ar e espuma na água.
Pelo exemplo de Beatriz compreende-se / facilmente como o amor feminino dura pouco, / se não for conservado aceso pelo olhar e pelo tacto do homem amado.
As leis existem, mas quem as aplica?
Vês que a razão, / seguindo o caminho indicado pelos sentimentos, tem asas curtas.
Oh, quão insuficiente é a palavra e quão ineficaz / ao meu conceito!
O mundo é cego, e tu vens exactamente dele.
Quando os seus pés deixaram a pressa, / que tolhe a nobreza a todo o ato....
Não deve o homem, pelo maior amigo, esquecer os favores recebidos do menor.
Do viver que é uma corrida para a morte.
No inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise.
A vontade, se não quer, não cede, / é como a chama ardente, / que se eleva com mais força quanto mais se tenta abafá-la.
Não há maior dor do que a de nos recordarmos dos dias felizes quando estamos na miséria.
O falar é um efeito natural; / mas, de um modo ou de outro, a natureza deixa o homem / escolher aquele que mais lhe agrada.
Tão fiel fui ao glorioso ofício, / que perdi o sono e a saúde.
O tempo passa e o homem não percebe.
Abre a mente ao que eu te revelo / e retém bem o que eu te digo, pois não é ciência / ouvir sem reter o que se escuta.
Porque jamais esquecerei, e ela me comove, / vossa estimada e boa imagem paterna , / quando no mundo, uma vez por outra, / me ensináveis como o homem se torna eterno.
Ó musas, com o vosso alto engenho, ajudai-me; / ó memória, que escreveste o que vi, / que se prove aqui a tua fidelidade.
E se não choras, do que costumas chorar?
Louco é quem espera que a nossa razão / possa percorrer a infinita via / que tem uma substância em três pessoas.
Tiveste sede de sangue, e eu de sangue te encho.
O dardo que vimos aproximar-se chega mais devagar.
Pensa que o dia passado não volta mais!
A verdade é que, como forma muitas vezes / não se harmoniza com a intenção da arte, / porque a matéria é surda a responder.
Amor e coração nobre são uma única coisa.
Uma vontade, mesmo se é boa, deve ceder a uma melhor.
Depois, mais do que a dor, venceu a fome.
A estirpe não transforma os indivíduos em nobres, mas os indivíduos dão nobreza à estirpe.
A alma é o maior milagre do mundo!
Por aqui não se passa sem que se sofra o calor do fogo.
Não se pode exprimir com palavras / a passagem do estado humano ao divino....
O amor me move: só por ele eu falo.
Trazes turbado o espírito, não conseguindo entender como é possível que uma vingança justa tenha sido mais tarde justamente punida...
Com aquela medida que o homem usa para medir a si mesmo, mede as suas coisas.
A fera assim me fez, que não se sossega.
Não há nada pior que recordar a felicidade em tempos de dor. (Inferno)
Muita cautela e igual prudência devem ter os homens quando lidam com os que enxergam não somente as coisas, mas percebem também o que se pensa.(A DIVINA COMÉDIA)
Aquele que à inatividade se entregar deixará de si sobre a terra memória igual ao traço que o fumo risca no ar e a espuma traça na onda. (A Divina Comédia)
Sai da mão de Deus que a contempla / antes de criá-la, como uma criança / que chora e ri sem verdadeiro motivo, / a alma ingénua que tudo ignora, / excepto quando, movida pelo desejo de retornar a Ele, / segue de bom grado o que a diverte.
Vós que viveis e sempre atribuís tudo o que ocorre na terra / aos movimentos celestes, como se tal movimento imprimisse / em todas as coisas uma necessidade, // Se assim fosse, em vós seria destruído / o livre-arbítrio, e não seria justo que o homem tivesse / por bem a alegria e por mal a dor.
Alma, criada para amar ardente,
A tudo corre, que lhe dá contento,
Se despertada do amor se sente.
Do que é real o vosso entendimento
Colhe imagens que em modo tal desprega,
Que alma prá elas sente atraimento.
Se alma, enlevada, ao seu pendor se entrega
Esse efeito é amor, própria natura,
Em que o prazer novo liame emprega.
E, como fogo se ala para a altura
Por sua forma que a elevar-se tende
Ao foco, onde o elemento seu mais dura,
Assim pelo desejo a alma se acende,
Ação espiritual que não se aquieta,
se não consegue a posse que pretende.
Vê, pois, que da verdade excede a meta
Quem acredita e aos outros assevera
Que todo amor de si é coisa reta
Amor e alma gentil estão ligados
como nos diz o sábio na canção.
Só pode um sem o outro ser pensado
se à alma racional falta razão.