E quando eu me apaixonei
Não passou de ilusão, o seu nome rasguei
Fiz um samba canção das mentiras de amor
Que aprendi com você
Sobre o Autor
Chico Buarque
Chico Buarque de Hollanda (19 de junho de 1944, Rio de Janeiro), músico brasileiro. É considerado um dos maiores nomes da MPB - Música Popular Brasileira.
Que saudade é o pior tormento, é pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar...
...e se vai continuar enrustido com essa cara de marido, a moça é capaz de se aborrecer... Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz...
O que será ser só
Quando outro dia amanhecer?
Será recomeçar?
Será ser livre sem querer?
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim
A felicidade
Morava tão vizinha
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha
Quando amo
Eu devoro
Todo o meu coração
Eu odeio
Eu adoro
Numa mesma oração
Por favor
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota dágua
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Hoje na solidão ainda custo
A entender como o amor foi tão injusto
Pra quem só lhe foi dedicação
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega
Mas não lava
Quem me vê sempre parado, distante
Garante que eu não sei sambar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz
...Venha, meu amigo. Deixe esse regaço. Brinque com meu fogo. Venha se queimar. Faça como eu digo. Faça como eu faço. Aja duas vezes antes de pensar... Eu semeio o vento. Na minha cidade. Vou pra rua e bebo a tempestade...
Atras da porta
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro não acreditei
Eu te estranhei me debrucei,
sobre o teu corpo e duvidei
E me arrastei de te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pêlos, no teu pijama
Nos teus pés, ao pé da cama.
Sem carinho sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Para sujar teu nome te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
Só para mostrar que ainda sou tua...
De todas as maneiras
Que há de amar
Nós já nos amamos
Com todas as palavras feitas pra sangrar
Já nos cortamos
Agora já passa da hora
Tá lindo lá fora
Larga a minha mão
Solta as unhas do meu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
Quando entra o verão
DESENCONTRO
A sua lembrança me dói tanto
Eu canto pra ver
Se espanto esse mal
Mas só sei dizer
Um verso banal
Fala em você
Canta você
É sempre igual
Sobrou desse nosso desencontro
Um conto de amor
Sem ponto final
Retrato sem cor
Jogado aos meus pés
E saudades fúteis
Saudades frágeis
Meros papéis
Não sei se você ainda é a mesma
Ou se cortou os cabelos
Rasgou o que é meu
Se ainda tem saudades
E sofre como eu
Ou tudo já passou
Já tem um novo amor
Já me esquece
EU TE AMO
Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás só fazendo de conta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir
... Amando noites afora
Fazendo a cama sobre os jornais
Um pouco jogados fora
Um pouco sábios demais
Esparramados no mundo
Molhamos o mundo com delícias
As nossas peles retintas
De notícias...
Até Pensei...
Junto à minha rua havia um bosque
Que um muro alto proibia
Lá todo balão caia
Toda maçã nascia
E o dono do bosque nem via
Do lado de lá tanta aventura
E eu a espreitar na noite escura
A dedilhar essa modinha
A felicidade
Morava tão vizinha
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha
Junto a mim morava a minha amada
Com olhos claros como o dia
Lá o meu olhar vivia
De sonho e fantasia
E a dono dos olhos nem via
Do lado de lá tanta ventura
E eu a esperar pela ternura
Que a a enganar nuca me via
Eu andava pobre
Tão pobre de carinho
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha
Toda a dor da vida
Me ensinou essa modinha
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha
Carolina
Carolina
Nos seus olhos fundos
Guarda tanta dor
A dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei que não vai dar
Seu pranto não vai nada mudar
Eu já convidei para dançar
É hora, já sei, de aproveitar
Lá fora, amor
Uma rosa nasceu
Todo mundo sambou
Uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo
Pela janela, ói que lindo
Mas Carolina não viu
Carolina
Nos seus olhos tristes
Guarda tanto amor
O amor que já não existe
Eu bem que avisei, vai acabar
De tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor
Uma rosa morreu
Uma festa acabou
Nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela
O tempo passou na janela
Só Carolina não viu
Construção
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Soneto
Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono
Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo
Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída
Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio
Será que ela é moça?,
Será que ela é triste?,
Será que é o contrário??
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno.
Está provado, quem espera nunca alcança.
Corro atrás do tempo.
Vim de não sei onde.
Devagar é que não se vai longe.
Eu semeio vento na minha cidade,
Vou pra rua e bebo a tempestade.
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa.
Pense que eu cheguei de leve, machuquei você de leve, e me retirei com pés de lã. Sei que o seu caminho amanhã, será tudo de bom, mas não me leve
A saudade é o revés de um parto.
Guarda-Me, Como a Menina dos seus Olhos.
Ela é a Tal, Sei que Ela pode ser Mil, Mas não existe outra igual.
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Para sempre é sempre por um triz.
E qualquer desatenção,faça não! Pode ser a gota d`água.
...Pois já forjou o seu sorriso
E fez do mesmo profissão...
Olhos nos olhos
Quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz
Também acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus.
O que será (À flor da pele)
O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite
O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo
Olhos nos olhos
Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mas nem porque
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz
Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar banda por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata
Trocando figurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Ai, que saudades que eu tenho
Duma travessura
Um futebol de rua
Sair pulando muro
Olhando fechadura
E vendo mulher nua
Comendo fruta no pé
Chupando picolé
Pé-de-moleque, paçoca
E disputando troféu
Guerra de pipa no céu
Concurso de pipoca
O Caderno
SOU EU QUE VOU SEGUIR VOCÊ DO PRIMEIRO RABISCO ATÉ O BE-A-BÁ
EM TODOS OS DESENHOS COLORIDOS VOU ESTAR
A CASA, A MONTANHA, DUAS NUVENS NO CÉU
E UM SOL A SORRIR NO PAPEL
SOU EU QUE VOU SER SEU COLEGA SEUS PROBLEMAS AJUDAR A RESOLVER
SOFRER TAMBEM NAS PROVAS BIMESTRAIS JUNTO A VOCE
SEREI SEMPRE SEU CONFIDENTE FIEL
SE SEU PRANTO MOLHAR MEU PAPEL
SOU EU QUE VOU SER SEU AMIGO VOU LHE DAR ABRIGO SE VOCÊ QUISER
QUANDO SURGIREM SEUS PRIMEIROS RAIOS DE MULHER
A VIDA SE ABRIRÁ NUM FEROZ CARROSSEL
E VOCÊ VAI RASGAR MEU PAPEL
O QUE ESTÁ ESCRITO EM MIM COMIGO FICARA GUARDADO SE LHE DA PRAZER
A VIDA SEGUE SEMPRE EM FRENTE O QUE SE HÁ DE FAZER
SÓ PEÇO A VOCÊ UM FAVOR SE PUDER
NÃO ME ESQUEÇA NUM CANTO QUALQUER
SÓ PEÇO A VOCÊ UM FAVOR SE PUDER
NÃO ME ESQUEÇA NUM CANTO QUALQUER
APROVEITANDO O ENSEJO...
Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão
Quando ela chora
Não sei se é dos olhos pra fora
Não sei do que ri (...) (...) Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é demais
Talvez nem me queria bem
Porém faz um bem que ninguém
Me faz (...) Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é assim
Nunca será de ninguém
Porém eu não sei viver sem
E fim
Todo o Sentimento
Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
Essa moça tá diferente,
já não me conhece mais.
Está pra lá de pra frente,
está me passando pra trás.
Essa moça tá decidida
a se supermodernizar.
Ela só samba escondida
que é pra ninguém reparar.
Eu cultivo rosas e rimas
achando que é muito bom.
Ela me olha de cima
e vai desiventar o som.
Faço-lhe um concerto de flauta
e não lhe desperto emoção.
Ela quer ver o astronauta
descer na televisão.
Mas o tempo vai,
mas o tempo vem.
Ela me desfaz.
Mas o que é que tem?
Que ela só me guarda despeito,
que ela só me guarda desdém.
Mas o tempo vai.
Mas o tempo vem.
Ela me desfaz.
Mas o que é que tem?
Se do lado esquerdo do peito,
no fundo, ela ainda me quer bem.
Essa moça é a tal da janela
que eu me cansei de cantar.
E agora está só na dela,
botando só pra quebrar.
Vem, me dê a mão; A gente agora já não tinha medo; No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido.
Menino quando morre vira anjo; Mulher vira uma flor no céu; Malandro quando morre vira samba.
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor...
Eu cultivo rosas e rimas, achando que é muito bom...
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
[In Samba e Amor]
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade, que alarde
Será que é tão difícil amanhecer?
[in Samba e Amor]
Eu vejo as pernas de louça da moça que passa
e eu não posso pegar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Hoje lembrando-me dela; Me vendo nos olhos dela; Sei que o que tinha de ser se deu; Porque era ela; Porque era eu
(...)Vê como é que anda aquela vida atoa, e se puder me manda uma notícia boa!
(Samba de Orly)
Não se afobe não que nada é pra já!
No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim
Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz
E atrás dessa mulher mil homens sempre tão gentis...
Futuros amantes, quica, se amarao sem saber, com o amor que eu um dia deixei para voce
Como é dificil acordar calado. Se na calada da noite eu me dano. Quero lançar um grito desumano.
Arrisquei muita braçada; Na esperança de outro mar; Hoje sou carta marcada; Hoje sou jogo de azar
Um coração saliente bate
E bate muito mais que sente
O homem mais forte do planeta
Tórax de Superman
Tórax de Superman
E coração de poeta
Seu homem foi-se embora
Prometendo voltar já
Mas as ondas não tem hora, morena
De partir ou de voltar
Não brilharia a estrela ó bela
Sem noite por detrás
DESENCONTRO
A sua lembrança me dói tanto
Eu canto pra ver
Se espanto esse mal
Mas só sei dizer
Um verso banal
Fala em você
Canta você
É sempre igual
Sobrou desse nosso desencontro
Um conto de amor
Sem ponto final
Retrato sem cor
Jogado aos meus pés
E saudades fúteis
Saudades frágeis
Meros papéis
Não sei se você ainda é a mesma
Ou se cortou os cabelos
Rasgou o que é meu
Se ainda tem saudades
E sofre como eu
Ou tudo já passou
Já tem um novo amor
Já me esqueceu
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...(2x)
Como beber
Dessa bebida amarga
Tragar a dor
Engolir a labuta
Mesmo calada a boca
Resta o peito
Silêncio na cidade
Não se escuta
De que me vale
Ser filho da santa
Melhor seria
Ser filho da outra
Outra realidade
Menos morta
Tanta mentira
Tanta força bruta...
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...
Como é difícil
Acordar calado
Se na calada da noite
Eu me dano
Quero lançar
Um grito desumano
Que é uma maneira
De ser escutado
Esse silêncio todo
Me atordoa
Atordoado
Eu permaneço atento
Na arquibancada
Prá a qualquer momento
Ver emergir
O monstro da lagoa...
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...
De muito gorda
A porca já não anda
(Cálice!)
De muito usada
A faca já não corta
Como é difícil
Pai, abrir a porta
(Cálice!)
Essa palavra
Presa na garganta
Esse pileque
Homérico no mundo
De que adianta
Ter boa vontade
Mesmo calado o peito
Resta a cuca
Dos bêbados
Do centro da cidade...
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...
Talvez o mundo
Não seja pequeno
(Cálice!)
Nem seja a vida
Um fato consumado
(Cálice!)
Quero inventar
O meu próprio pecado
(Cálice!)
Quero morrer
Do meu próprio veneno
(Pai! Cálice!)
Quero perder de vez
Tua cabeça
(Cálice!)
Minha cabeça
Perder teu juízo
(Cálice!)
Quero cheirar fumaça
De óleo diesel
(Cálice!)
Me embriagar
Até que alguém me esqueça
(Cálice!)
O que a ação revela sobre a pessoa?
Ouça um bom conselho
que lhe dou de graça
Inútil dormir
Que a dor não passa
Espera sentado ou você se cansa
Está provado
Quem espera nunca alcança
Sabia, gosto de você chegar assim. arrancando páginas dentro de mim.
Desde o primeiro dia. sabia, me apagando filmes geniais.
Rebobinando o século. meus velhos carnavais. minha melancolia.
Sabia que você ia trazer seus instrumentos.
Invadir minha cabeça. onde um dia tocava uma orquestra...
Sabia que ia acontecer você, um dia.
E claro que já não me valeria nada tudo o que eu sabia.
Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono
Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo
Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar com que navio
E me deixaste só, com que saída
Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Abre o teu coração
Ou eu arrombo a Janela
O olhar de uma mulher faz pouco até de Deus
Mas não engana uma outra mulher
As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem.
Imagina hoje à noite a gente se perder
Imagina hoje à noite a lua se apagar
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz...
No palco, na praça, no circo, num banco de jardim, correndo no escuro, pichado no muro... Você vai saber de mim.
E pela minha lei a gente era obrigado a ser feliz, você era a princesa que eu fiz coroar e era tão linda de se adimirar!!!
Quem sabe um dia, por descuido ou poesia, você goste de ficar?
Essa moça tá diferente
Já não me conhece mais
Está pra lá de pra frente
Está me passando pra trás
Essa moça tá decidida
Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde
Diga ao primeiro que passa; Que eu sou da cachaça ; Mais do que do amor
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Eu canto a dor que eu não soube chorar
Nunca é tarde, nunca é demais; Onde estou, onde estás; Meu amor vem me buscar
E qualquer coisa que eu recorde agora, vai doer. A memória é uma vasta ferida.
As pessoas têm medo das mudanças... Eu tenho medo que as coisas não mudem
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
Porém, ai porém
Visto que a vida gosta de uns ardis
No dia em que ao seu lado ele sonhar feliz, feliz assim
Feche então você seus olhos por favor
E pode estar certa que o seu novo amor
Resolveu voltar pra mim
Quando ela mente; Não sei se ela deveras sente; O que mente pra mim
Amores serão sempre amáveis
Só vim te convencer; Que eu vim pra não morrer; De tanto te esperar
Hoje lembrando-me dela; Me vendo nos olhos dela; Sei que o que tinha de ser se deu; Porque era ela; Porque era eu
Outra noite; Outro sono; Como se eu sonhasse o sonho de outro dono
Foi um sonho bom; De sonhar porque; Me sonhava com você
Quem sou eu para falar de amor; Se de tanto me entregar nunca fui minha
Hoje lembrando-me dela; Me vendo nos olhos dela; Sei que o que tinha de ser se deu; Porque era ela; Porque era eu
E por fugir ao contrário, sinto-me duas vezes mais veloz
Se você quer mesmo saber; Por que que ela ficou comigo; Eu digo que não sei
Andei sete léguas de amor; Chorei sete litros de mar; Mas ela não se saciou; Mas ela não soube esperar
É melhor sofrer em dó menor do que você sofrer calado.
Bateu uma saudade de ti.
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor
Todo dia eu só penso; Em poder parar; Meio-dia eu só penso; Em dizer não
Leva os teus sinais; Que a saudade dói como um barco; Que aos poucos descreve um arco; E evita atracar no cais
Me leve um pouco com você; Eu gosto de qualquer lugar; A gente pode se entender; E não saber o que falar
Mas depois de um ano eu não vindo; Ponha a roupa de domingo e pode me esquecer
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci, mas depois como era de costume, obedeci.
Quando talvez precisar de mim, cê sabe que a casa é sempre sua.
Quem sou eu para falar de amor, se o amor me consumiu até a espinha?
E quando ela está nos meus braços; As tristezas parecem banais; O meu coração aos pedaços; Se remenda prum número a mais
Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar.
Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando e não posso falar.
Mas na manhã seguinte; Não conta até vinte; Te afasta de mim; Pois já não vales nada; És página virada; Descartada do meu folhetim
E nada como um tempo após um contratempo; Pro meu coração
E me vingar a qualquer preço; Te adorando pelo avesso; Pra mostrar que ainda sou tua
Fui assim levando; Ele a me levar.
Tantas palavras que ela gostava; E repetia só por gostar
Preciso não dormir; Até se consumar; O tempo da gente
Cada paralelepípedo da velha cidade; essa noite vai se arrepiar
Se instalou feito um posseiro dentro do meu coração.
Se você sentir saudades, por favor, não dê na vista. Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista.
Amo tanto e de tanto amar, acho que ela é bonita.
Mulher de amigo meu é igual a muro alto: sei que é perigoso, mas eu trepo.
O meu amigo secreto; Põe meu coração a balançar
É desconcertante; Rever o grande amor
Pois você sumiu no mundo sem me avisar; E agora eu era um louco a perguntar; O que é que a vida vai fazer de mim?
Ilusão, Ilusão; Veja as coisas como elas são
Alô, liberdade. Desculpa eu vir assim sem avisar, mas já era tarde.
Me esquenta porque o cobertor é curto.
Quando olhaste bem nos olhos meus; E o teu olhar era de adeus; Juro que não acreditei
Uma saideira, muita saudade e a leve impressão de que já vou tarde.
Hoje eu sou da maneira que você me quer.
Pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado desprezar quem lhe quer bem?
Estava indiferente; Logo me comovo; Pra ficar contente; Porque é Ano-novo
Esse silêncio todo me atordoa; Atordoado eu permaneço atento
Eu bem que avisei, vai acabar. De tudo lhe dei para aceitar, mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar.
Você que inventou o pecado, esqueceste de inventar o perdão.
Como conseguir ser apaixonado todos os dias, seja pela vida, seja por alguém.
Sala sem mobília; Goteira na vasilha; Problema na família. Quem não tem?
Vem, mas vem sem fantasia.
Leva o que há de ti, que a saudade dói latejada.
Eu te murmuro; Eu te suspiro; Eu, que soletro teu nome no escuro
Mas uma vez na vida; Eu vou viver a vida que eu pedi a Deus
Desbanca a outra; A tal que abusa; De ser tão maravilhosa
Hoje na solidão ainda custo; A entender como o amor foi tão injusto; Prá quem só lhe foi dedicação
Deixe em paz meu coração que ele é um pote até aqui de mágoa.
Mas devo dizer que não vou lhe dar; O enorme prazer de me ver chorar
Espalha os meus soldados; Estraga os meus brinquedos; Pode me odiar; Nunca mais olhar pra mim; Mas não faz; Não faz mais assim
Junto a mim morava minha amada; Com olhos claros como o dia; Lá o meu olhar vivia de sonho e fantasia; E a dona dos olhos nem via
Nossa canção incompleta pode esperar vinte anos
Quando chegar o momento; Esse meu sofrimento; Vou cobrar com juros. Juro!
Saudade mata a gente, menina.
Saudade engole a gente, menina.
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz; Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
A gente quase não se vê; Eu só queria me lembrar; Me dê noticia de você; Me deu vontade de voltar
Aliás, aceite uma ajuda do seu futuro amor.
Então; Disfarçar minha dor eu não consigo; Dizer: somos sempre bons amigos; É muita mentira para mim
Eu vou rasgar meu coração; Pra costurar o teu
Sem carinho, sem coberta; No tapete atrás da porta; Reclamei baixinho
Puseram uma usina no mar; Talvez fique ruim pra pescar meu amor
Faça como eu digo; Faça como eu faço; Aja duas vezes antes de pensar
Foi tão bonito você me emprestar a vida assim; Ver que eu não tinha saída e seguir por onde eu vim
Diz se é perigoso a gente ser feliz
O amor faz ondas redondas até quebrar como eu quero.
Para sempre é sempre por um triz
Toda sessão ela virava uma atriz
E se eu pudesse entrar na sua vida...
... A saudade é o pior tormento, é pior do que o esquecimento...
É sempre bom lembrar que um copo vazio esta cheio de ar.
Me responde, por favor. Pra onde vai o meu amor... Quando o amor acaba?
Tantas palavras que ela falava; Ditas de novo não são iguais
Mesmo que vocÊ fuja de mim
Por labirintos e alçapões
saiba que os poetas como os cegos podem ver no escuro.
E eis que,menos sábios do que antes
Os seus lãbios ofegantes
Hão de se entregar assim:
ME LEVE ATÉ O FIM!
Minha mãe sempre diz:Não há dor que dure para sempre!
Tudo é vário.Temporário.Efêmero.Nunca somos,sempre estamos!
E apesar de saber de tudo isso.Porque algumas dores duram tanto?
Porque alguns sentimentos(diga-se de passagem os mais ridículos) demoram tanto a passar?
Porque olhar pra ele reaviva esperanças perdidas e suscitas lágrimas quentes até então contidas?
Porque o cérebro ainda não inculcou no coração que esquecer faz bem a sáude?
Porque tudo não pode ser como um bonito filme francês?
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
(...)
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país
Trocando em Miúdos
Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim!
O resto é seu
Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças
Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter
Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado
Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu
Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.
Talvez nem me queira bem; Porém faz um bem que ninguém me faz.
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Quando chegar o momento, esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro.
Eu vou rasgar meu coração pra costurar o teu.
Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de ´desinventar´.
Mesmo com o todavia
Com todo dia
Com todo ia
Todo não ia
A gente vai levando
És pagina virada; Descartada do meu folhetim.
Não me leve a mal; Me leve à toa pela última vez
Sinto que, ao cruzar a cancela, não estarei entrando em algum lugar, mas saindo de todos os outros.
Não tem mais jeito, a gente não tem cura.
O nosso amor é tão bom. O horário é que nunca combina.
Ontem vi tudo acabado, meu céu desastrado, medo, solidão, ciúme. Hoje contei as estrelas e a vida parece um filme.
Acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus.
E pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz.
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
O nosso amor é tão bom; O horário é que nunca combina
Não há mais porta, mas também não tenho mais vontade de entrar
Eu por mim sonhava com você em todas as cores, mas meus sonhos são que nem cinema mudo, e os atores já morreram há tempos.
E urgia compreender melhor o desejo que me descontrolara, eu nunca havia sentido coisa semelhante. Se desejo era aquilo, posso dizer que antes de Matilde eu era casto.
Não sei por que você não me alivia a dor. Todo dia a senhora levanta a persiana com bruteza e joga sol no meu rosto. Não sei que graça pode achar dos meus esgares, é uma pontada cada vez que respiro. Às vezes aspiro fundo e encho os pulmões de um ar insuportável, para ter alguns segundos de conforto, expelindo a dor. Mas bem antes da doença e da velhice, talvez minha vida já fosse um pouco assim, uma dorzinha chata a me espetar o tempo todo, e de repente uma lambada atroz. Quando perdi minha mulher, foi atroz. E qualquer coisa que eu recorde agora, vai doer, a memória é uma vasta ferida. Mas nem assim você me dá os remédios, você é meio desumana.
Daí a eterna impaciência, e adoro ver seus olhos de rapariga rondando a enfermaria: eu, o relógio, a televisão, o celular, eu, a cama do tetraplégico, o soro, a sonda, o velho do Alzheimer, o celular, a televisão, eu, o relógio de novo, e não deu nem um minuto. Também acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus, para pensar no galã da novela, nas mensagens do celular, na menstruação atrasada.
Eu já a tinha visto de relance umas vezes, na saída da missa das onze, ali mesmo na igreja da Candelária. Na verdade nunca a pude observar direito, porque a menina não parava quieta, falava, rodava e se perdia entre as amigas, balançando os negros cabelos cacheados. Saía da igreja como quem saísse do cinema Pathé, onde na época exibiam fitas em série americanas. Mas agora, no momento em que o órgão dava a introdução para o ofertório, bati sem querer os olhos nela, desviei, voltei a mirá-la e não a pude mais largar. Porque assim suspensa e de cabelos presos, mais intensamente ela era ela em seu balanço guardado, seu tumulto interior, seus gestos e risos por dentro, para sempre, ai. Então, não sei como, em plena igreja me deu grande vontade de conhecer sua quentura. Imaginei que abraçá-la de surpresa, para ela pulsar e se debater contra o meu peito, seria como abafar nas mãos o passarinho que capturei na infância. Estava eu com essas fantasias profanas, quando minha mãe me to¬mou pelo braço para a comunhão. Hesitei, remanchei um pouco, não me sentia digno do sacramento, mas recusá-lo à vista de todos seria um desacato. Com certo medo do inferno, fui afinal me ajoelhar ao pé do altar e cerrei os olhos para receber a hóstia sagrada. Quando os reabri, Matilde se virava para mim e sorria, sentada ao órgão que não era mais um órgão, era o piano de cauda da minha mãe. Tinha os cabelos molhados sobre as costas nuas, mas acho que agora já entrei no sonho.
Bom dia, flor do dia, mas deve haver modos menos agourentos de se despertar que com uma filha choramingando à cabeceira. E pelo visto, mais uma vez você veio sem os meus cigarros, que dirá os charutos. Que é proibido fumar aqui dentro eu sei, mas dá-se um jeito, também não estou lhe pedindo para entrar no hospital com cocaína.
Eu também gostaria de ter conhecido meu trisavô, gostaria que meu pai me acompanhasse mais um pouco, gostaria sobretudo que Matilde me sobrevivesse, e não o contrário. Não sei se existe um destino, se alguém o fia, enrola, corta. Nos dedos de alguma fiandeira, provavelmente a linha da vida de Matilde seria de fibra melhor que a minha, e mais extensa. Mas muitas vezes uma vida para no meio do caminho, não por ser a linha curta, e sim tortuosa. Depois que me deixou, nem posso imaginar quantas aflições Matilde teve em sua existência. Sei que a minha se alongou além do suportável, como linha que se esgarça. Sem Matilde, eu andava por aí chorando alto, talvez como aqueles escravos libertos de que se fala. Era como se a cada passo eu me rasgasse um pouco, por¬que minha pele tinha ficado presa naquela mulher.
Se soubesse como gosto das suas cheganças, você chega¬ria correndo todo dia. É a única mulher que ainda me estima, se você me faltar morro de inanição. Sem você me enterrariam como indigente, meu passado se apaga¬ria, ninguém registraria a minha saga.
A dor da gente não sai no jornal
Já foi provado...quem espera nunca alcança!
E quando ela está nos meus braços; As tristezas parecem banais; O meu coração aos pedaços; Se remenda prum número a mais.
Eu tô só vendo, sabendo,
Sentindo, escutando e não posso falar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me ofende, humilhando, pisando,
Pensando que eu vou aturar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Talvez seja da minha natureza não me sentir pertencendo totalmente a lugar nenhum, em lugar nenhum.
Pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem?
Minha mãe sempre diz: Não há dor que dure para sempre! Tudo é vário. Temporário. Efêmero. Nunca somos, sempre estamos.
E apesar de saber de tudo isso porque algumas dores duram tanto?
Tantos rodeios pra enfim me roubar; Coisas que dele já são
Já passou, já passou. Se você quer saber, eu já sarei, já curou. Me pegou de mal jeito mas não foi nada, estancou.
Aquela esperança de tudo se ajeitar Pode esquecer.
A saudade é o pior tormento. é pior do que o esquecimento.
Ouça um bom conselho que eu lhe dou de graça: inútil dormir que a dor não passa. Espere sentado ou você se cansa. Está provado, quem espera nunca alcança.
E nada como um tempo após um contratempo pro meu coração.
Eu quero fazer silêncio
Um silêncio tão doente
Do vizinho reclamar
E chamar polícia e médico
E o síndico do meu tédio
Pedindo pra eu cantar
Ela esquenta a papa do neto
Ele quase que fez fortuna
Vão viver sob o mesmo teto
até que a morte os una
até que a morte os una
Como num romance
O homem dos meus sonhos
Me apareceu no dancing
Era mais um
Só que num relance
Os seus olhos me chuparam
Feito um zoom
Lá no morro
De amor o sangue corre
moça chorando
Que o verdadeiro amor sempre é o que morre
Alô, liberdade. Desculpa eu vir assim sem avisar, mas já era tarde.
Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar.
E por fugir ao contrário, sinto-me duas vezes mais veloz
Vem, mas vem sem fantasia.
É sempre bom lembrar que um copo vazio esta cheio de ar.
Agora já não é normal
O que dá de malandro regular, profissional
Malandro com aparato de malandro oficial
Malandro candidato a malandro federal
Malandro com retrato na coluna social
Malandro com contrato, com gravata e capital
Que nunca se dá mal
Ouça um bom conselho que eu lhe dou de graça: inútil dormir que a dor não passa. Espere sentado, ou você se cansa. Está provado: quem espera nunca alcança. Faça como eu digo, faça como eu faço; aja duas vezes antes de pensar. Corro atrás do tempo. Vim de não sei donde devagar é que não se vai longe. Eu semeio o vento na minha cidade, vou pra rua e bebo a tempestade.
Tudo está na natureza encadeado e em movimento cuspe, veneno, tristeza, carne, moinho, lamento, ódio, dor, cebola e coentro, gordura, sangue, frieza, isso tudo está no centro de uma mesma e estranha mesa. Misture cada elemento uma pitada de dor, uma colher de fomento, uma gota de terror. O suco dos sentimentos, raiva, medo ou desamor, produz novos condimentos, lágrima, pus e suor, mas, inverta o segmento, intensifique a mistura, temperódio, lagrimento, sangalho com tristezura, carnento, venemoinho, remexa tudo por dentro, passe tudo no moinho, moa a carne, sangre o coentro, chore e envenene a gordura: você terá um ungüento, uma baba, grossa e escura, essência do meu tormento e molho de uma fritura de paladar violento que, engolindo, a criatura repara o meu sofrimento coa morte, lenta e segura. Eles pensam que a maré vai, mas nunca volta. Até agora eles estavam comandando o meu destino e eu fui, fui, fui, fui recuando, recolhendo fúrias. Hoje eu sou onda solta e tão forte quanto eles me imaginam fraca. Quando eles virem invertida a correnteza, quero saber se eles resistem à surpresa, quero ver como eles reagem à ressaca. Meus filhos, vocês vão lá na solenidade, digam à moça que a mamãe está contente tanto assim que lhe preparou este presente pra que ela prove como prova de amizade. Beijem seu pai, lhe desejem felicidade coa moça e voltem correndo, que eu e vocês também vamos comemorar, sós, só nós três, vamos mastigar um naco de eternidade.
Canção de Pedroca
Quando nos apaixonamos
Poça dágua é chafariz
Ao olhar o céu de Ramos
Vê-se as luzes de Paris
No verão é uma delícia
A brisa fresca de Bangu
Mesmo um cabo de polícia
Só nos diz merci beaucoup
Eu ouço um samba de breque
Com Maurice Chevalier
Bebo com Toulouse Lautrec
No bar do Caxinguelê
Daí ninguém mais estranha
O Louvre na Praça Mauá
E o borbulhar de champanha
Num gole de guaraná
Cascadura é Rive Gauche
O Mangue é Champs Elisées
Até mesmo um bate-coxa
Faz lembrar um pas-de-deux
Purê de batata roxa
Parece marron glacé
Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo. Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
Eu vou virar artista
Ficar famosa, falar inglês
Autografar com as unhas
Eu vou, nas costas do meu freguês
Ao povo nossas carícias
Ao povo nossas carências
Ao povo nossas delícias
E nossas doenças
Já gozei de boa vida
Tinha até meu bangalô
Cobertor, comida
Roupa lavada
Vida veio e me levou
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de baixo
Que eu sou professor
Eu gostava de falar mal do governo quando os jornais não o faziam.
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
Sou bandida
Sou solta na vida
E sob medida
Pros carinhos teus
Meu amigo
Se ajeite comigo
E dê graças a Deus
Acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus, ou quando sua risada se confunde com a minha.
Às vezes o que a gente procura, não é o que a gente procura. É o que a gente encontra.
E quando ela está nos meus braços; As tristezas parecem banais; O meu coração aos pedaços; Se remenda prum número a mais
Acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus, ou quando sua risada se confunde com a minha.
Não sei se você ainda é o mesmo
Ou se cortou os cabelos
Rasgou o que é meu
Se ainda tem saudades.
Ah! felicidade
Em que vagão de trem noturno viajarás?
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E quando eu me apaixonei
Não passou de ilusão, o seu nome rasguei
Fiz um samba canção das mentiras de amor
Que aprendi com você
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
mor, eu me lembro ainda
Que era linda, muito linda
Um céu azul de organdi
A camisola do dia
Tão transparente e macia
Que eu dei de presente a ti
Tinha rendas de Sevilha
A pequena maravilha
Que o teu corpinho abrigava
E eu, eu era o dono de tudo
Do divino conteúdo
Que a camisola ocultava
A camisola que um dia
Guardou a minha alegria
Desbotou, perdeu a cor
Abandonada no leito
Que nunca mais foi desfeito
Pelas vigílias de amor
Criei barriga, a minha mula empacou
Mas vou até o fim
Não tem cigarro acabou minha renda
Deu praga no meu capim
Minha mulher fugiu com o dono da venda
O que será de mim ?
Eu já nem lembro pronde mesmo que eu vou
Mas vou até o fim
Eu quero que mamãe me veja pintando a boca em coração
Será que vai morrer de inveja ou não
Ai, se papai me pega agora abrindo o último botão
Será que ele me leva embora ou não
Será que fica enfurecido será que vai me dar razão
Chorar o seu tempo vivido em vão
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada, não se abre a boca.
Quando você me quiser rever, já vai me encontrar refeita, pode crer. Olhos nos olhos, quero ver o que você faz,ao sentir que sem você, eu passo bem demais. E que venho até remoçando, que me pego até cantando, sem mais, nem porquê. Quando talvez precisar de mim, cê sabe que a casa é sua, venha sim! Olhos nos olhos, quero ver o que você diz, quero ver como suporta me ver tão feliz!!
O meu amor tem um jeito manso que é só seu, que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos com tantos segredos lindos e indecentes. Depois brinca comigo, ri do meu umbigo, e me crava os dentes. Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz. Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz.
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar, mas se o destino insestir em nos separar; danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas, os buzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos, sinopses, espelhos, conselhos, que se dane o evangelho e todos os orixás, serás o meu amor, serás a minha paz.
Sei que a noite inteira eu vou cantar
Até segunda feira
Quando volto a trabalhar, morena
Sei que não preciso me inquietar
Até segundo aviso
Você prometeu me amar
Por isso eu conto a quem encontro pela rua
Que meu samba é seu amigo
Que a minha casa é sua
Que meu peito é seu abrigo
Meu trabalho, seu sossego
Seu abraço, meu emprego
Quando chego
No meu lar, morena.
Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz e atrás dessa mulher mil homens, sempre tão gentis.
Por isso, para o seu bem, ou tire ela da cabeça ou mereça a moça que você tem.
A Rita levou meu sorriso.
No sorriso dela,
Meu assunto.
Levou junto com ela,
O que me é de direito.
Arrancou-me do peito.
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver
Custou tanto penar
Não vou me arrepender
Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar
Então!
Disfarçar minha dor
Eu não consigo dizer:
Somos sempre bons amigos
É muita mentira para mim...
Pois eu sonhei contigo e caí da cama.
Ai, amor, não briga! Ai, não me castiga!
Ai, diz que me ama e eu não sonho mais!
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou. E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor, depois da banda passar...
É preciso sempre desconfiar das coisas fáceis.
Esse silêncio todo me atordoa; Atordoado eu permaneço atento
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando,
Me pego cantando, sem mais, nem por quê.
Tantas águas rolaram,
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você.
Quando talvez precisar de mim,
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você diz.
Quero ver como suporta me ver tão feliz.
E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando a festa, esperando a sorte
E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também
- Quem é você?
- Adivinha, se gosta de mim!
Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim:
- Quem é você, diga logo...
- Que eu quero saber o seu jogo...
- Que eu quero morrer no seu bloco...
- Que eu quero me arder no seu fogo.
- Eu sou seresteiro,
Poeta e cantor.
- O meu tempo inteiro
Só zombo do amor.
- Eu tenho um pandeiro.
- Só quero um violão.
- Eu nado em dinheiro.
- Não tenho um tostão.
Fui porta-estandarte,
Não sei mais dançar.
- Eu, modéstia à parte,
Nasci pra sambar.
- Eu sou tão menina...
- Meu tempo passou...
- Eu sou Colombina!
- Eu sou Pierrô!
Mas é Carnaval!
Não me diga mais quem é você!
Amanhã tudo volta ao normal.
Deixa a festa acabar,
Deixa o barco correr.
Deixa o dia raiar, que hoje eu sou
Da maneira que você me quer.
O que você pedir eu lhe dou,
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!
Sem açúcar
Todo dia ele faz diferente
Não sei se ele volta da rua
Não sei se me traz um presente
Não sei se ele fica na sua
Talvez ele chegue sentido
Quem sabe me cobre de beijos
Ou nem me desmancha o vestido
Ou nem me adivinha os desejos
Dia ímpar tem chocolate
Dia par eu vivo de brisa
Dia útil ele me bate
Dia santo ele me alisa
Longe dele eu tremo de amor
na presença dele me calo
Eu de dia sou sua flor
Eu de noite sou seu cavalo
A cerveja dele é sagrada
A vontade dele é a mais justa
A minha paixão é piada
A sua risada me assusta
Sua boca é um cadeado
E meu corpo é uma fogueira
Enquanto ele dorme pesado
Eu rolo sozinha na esteira