Livros de Anibal Beça

Rio na piracema, peixes pulam nas canoas: mendigos alegres.

Sobre o Autor

Anibal Beça

Aníbal Beça foi um poeta, compositor, tradutor e jornalista brasileiro, nascido em Manaus. Publicou mais de 15 livros e trabalhou em muitos veículos de comunicação de Manaus.

Melhores Livros de Anibal Beça

Mais frases de Anibal Beça

No céu enfeitado, papagaio de papel: também vou no vôo.

Rio na piracema, peixes pulam nas canoas: mendigos alegres.

Vento de verão vem com bafo de mormaço - garoa ameniza.

Doceira na noite a negra sorriu: canteiro de estrelas?

Rapsódia incômoda: ao redor do bóia-fria moscas do canavial.

Janela fechada: borboleta na vidraça dá cor ao meu dia.

A cigarra canta o anúncio de sua morte - formigas na contra-dança.

Céu de primavera no jardim dorme a menina. Qual a flor do sonho?

Varrendo folhas secas lembrei-me do mar distante: chuá de ondas chegando.

Silêncio de outono. Nem o grito do carteiro... cochicho de folhas.

Canto e contracanto: o pica-pau reclamando do som do machado.

Se deu mal na praia: menino distraído pisa numa arraia.

Sol no girassol. Sombra desenha outra flor no corpo dourado.

Bem que me agasalho. Galhos sem folhas lá fora parecem ter frio.

Coruja na cumeeira arrepia no seu canto - a viúva reza.

Susto na colheita: em vez do cupuaçu cai a casa de vespas.

Folha no rio vai para o mar sem volta - chorão se renova.

De traje a rigor os urubus em meneios bailando nas nuvens.

Folha de jornal vem no vento ao meu pescoço; cachecol de letras.

Na soleira do sítio a graúna canta ao silêncio do sol.

Sesta no jardim: a borboleta me acorda. Coça o meu nariz.

Menino amuado quem te deu tamanho bico foi o tico-tico?

Além do quentão, só a orelha da companheira me salva do frio.

Dançando a quadrilha lembrei de aulas de francês. Onde a professora?

Na hora do rush o cheiro do incenso acalma: hare-krishnas dançam.

Regato tranqüilo: uma libélula chega e mergulha os pés.

Nos gestos da mão baila a brasa do cigarro: pisca o pirilampo.

Sobe a piracema - ano que vem outros peixes nadarão de novo.

Tempo de uiaúa: o rio onde os peixes nascem é o mesmo que os mata.

Céu de primavera. Nas açucenas floridas dura mais o orvalho.

Partitura alegre: cai a chuva sobre o charco no ritmo dos sapos.

Na caixa postal a mão sente a queimadura: taturana presa.

Ah, a sensualidade... palmeiras se abraçando cúmplices do vento.

Teus olhos formam das ázimas lágrimas rios que retornam ao mar

Abre o camponês sulcos de arado na terra: no seu rosto rugas.

Hora do recreio: periquitos tagarelas brigam pelas mangas.

Ao sol do verão o sorvete se derrete. Namoro desfeito.

Abro o armário e vejo nos sapatos meus caminhos. Qual virá no séquito?

Açougue nas águas: piranhas esquartejam o boi no meio do rio.

Folhas do ciclame ao vento pra lá e pra cá - um coração pulsa.

Gaiola se abrindo e o haijin livre de amarras: sabiá cantando.

Com jeito voyeur da soleira da janela um pombo me espia.

Morcego em surdina morde e sopra o velho gato. Não contava o pulo...

Na casca amarela se esconde em vão a goiaba: tantos bem-te-vis...

No ocaso do outono só o carrapicho gruda na velha calça...

Maria-fecha-a-porta ao toque do meu dedo: ah plantinha tímida...

Entre o capim seco uma surpresa rajada: ovos de codorna.

A chuva já vem? Não vem. É o marcador cantando a quadrilha.

Jogando a tarrafa caboclo desfaz a lua. Pesca estrelas de escama.

Menino no banheiro sola um sonho só de gozo entre a mão e o chuveiro.

Girassol na tarde se curva em reverência: o sol se vai.

Cercada de verde ilha na hera do muro: uma orquídea branca.

Em câmera lenta preguiça na imbaubeira passa a outro galho.

Brilha mais ereto o penhasco sob o sol: ah o verão fértil.

Sozinho na casa. Lá fora o canto das cigarras. Ah se não fossem elas...

Grito de agonia: periquito na jaqueira preso na resina.

Broca no bambu deixa furos de flauta. O vento faz música.

Um pombo no mar traz ao bico verde ramo: terra à vista?

A flor do ipê-roxo cai deixando saudades. Ah, a moça da tarde...

vermelho relâmpago irrompe do capim seco: a cobra coral.

Folhas do ciclame ao vento pra lá e pra cá - um coração pulsa.

Na noite de inverno o frio não é só no corpo: as tábuas estalam.

Quase desperdício. Moscas sobre caquis podres Só o sapo come.

No embalo do vento palmeiras se abraçam: dois amantes?

Apenas um gesto e o homem é capaz de vida - reparto o caqui.

Fugiu-me da mão no vento com folhas secas a carta esperada.

De manhã, a brisa encrespa o igarapé e penteia as águas.

Já é quase dia e a lua brilha no lago. Ainda é primavera!

Na calma do lago um bufo entre a canarana: peixe-boi respira.

Solidão de outubro: folhas varridas no vento levam meu recado.

No embalo do vento palmeiras se abraçam: dois amantes?

Uma vida é só uma vida só uma vida é vivida melhor se for dividida e tudo mais é só e tudo mais é e tudo mais e tudo e