Livros de Tati Bernardi

Sobre o Autor

Tati Bernardi

Tati Bernardi Teixeira Pinto é uma publicitária paulistana, autora de quatro livros e muito conhecida no mundo virtual por seus textos, site e blog.

Melhores Livros de Tati Bernardi

Amar dói tanto que você volta a lembrar que existe algo maior, você se lembra de Deus, você se lembra de vida após a morte. Amar dói tanto que você fica humilde e olha de verdade para o mundo, mas ao mesmo tempo fica gigante e sente a dor da humanidade inteira. Amar dói tanto que não dói mais, como toda dor que de tão insuportável produz anestesia própria

E o único jeito de ser mais malandro que a tristeza é sendo cínico. E lá vai a garota. Comprar pão quente com seu cinismo. Comprar absorvente com seu cinismo. Amar com seu cinismo. Porque só o cinismo vence a tristeza. Porque só o cinismo é mais triste do que a tristeza. E eu virei um muro alto feito de pedras cheias de pontas. Tudo isso só porque eu quero tanto um pouco de carinho que acabei ficando com medo de não ganhar.

Passamos a tarde juntos. Foi leve e eu estava quieta, coisa que nunca aconteceu nenhuma das vezes que saímos. Eu estava sempre histérica e hoje eu estava muito quieta, até demais. Talvez seja porque eu não tenho mais a euforia louca de ser amada. Eu piro quando alguém me ama e ao ver em você a calmaria dos vencedores corriqueiros, larguei o corpo. Acabou sendo boa, a sensação de tarde ordinária, encontro ordinário.

Você é tão errado e cheio de estragos. E me peguei olhando pra tudo isso e amando tanto, tanto, tanto. Como se nada mais no mundo fosse tão bonito ou correto ou mesmo perfeito porque perfeito é o que não tem mesmo cabimento. O resto nem existe porque vemos ou explicamos (...)

Algumas mulheres acreditam no sexo com o pau amigo, o homem limpinho que aparece de vez em quando só pra dar uma comidinha e tchau. Eu acredito no sexo com o amigo sem pau. O homem que aparece de vez em quando e te busca em casa, abre a porta do carro, elogia sua roupa, escolhe os melhores ingressos, faz você morrer de rir, conversa sobre tudo, dá conselhos, cuida de você, sobe com você até seu apartamento, curte um som, dorme de conchinha, te abraça forte e…vai embora. Isso sim é dar uma, ao meu ver.

De novo, de novo, eu não canso. De novo fazendo romance em cima de um conto breve.

Tantas garrafas, tantas viagens, tantos amores, oh Deus, que sereno inferno esse de lembrar o bom de antes quando nem sabíamos que acharíamos bom um dia. E seria? Cuidado, o Tempo mascara o duro.

Nada em mim é passivo. Tudo em mim fura, arrebenta, endurece, estoura na cara dos outros. Isso é ser mulher? Me diz!

Eu, que sempre quis desfilar com a minha alegria para provar ao mundo que eu era feliz, só quero me esconder de tudo ao seu lado.

Eu tô sempre indo embora, mas aí vai um super clichê: é de tanto que eu só queria ficar. E queria que você não achasse que sou sempre louca, ainda que eu seja.

É triste saber que falta alguma coisa e saber que não dá pra comprar, substituir, esquecer, implorar. Mas amor, você sabe, amor não se pede.

As coisas são como são. Na hora certa.

Ele me aperta como sempre, até que algum ossinho da minha coluna estale, e me diz, como sempre também: Que é que você tem que eu sempre largo tudo e venho te ver ?

Porque me jogar pelos cantos e suspirar você é só o que eu consigo fazer.

E eu escrevo um parágrafo e corro pra ver se tem e-mail. E eu escrevo uma linha e corro pra ver se tem mensagem de texto. E eu não escrevo nada e também não corro, apenas deixo você chegar aqui do meu lado, em pensamento. E me pego sorrindo, sozinha. E me pego nem aí para todo o resto. Mas sabe o que acontece enquanto isso? Enquanto eu não me movo porque estou lotada de você e me mover pesa demais? O mundo acontece. O mundo gira. As pessoas importantes assinam contratos, ganham dinheiro. As pessoas simples lutam por um lugar na condução, um lugar no mundo. Estão todos lutando. Estão todos ganhando dinheiro. Estão todos fazendo algo mais importante e mais maduro do que suspirar como uma idiota e só pensar em você. Eu tenho muita inveja dessas pessoas maravilhosas, adultas, evoluídas e espertas que conseguem separar a hora de ir a uma reunião de condomínio com a hora de desejar alguém na escada do condomínio. A hora de marcar o dentista com a hora de engolir alguém. A hora de procurar a palavra macambúzio no dicionário com a hora de se perder com as suas palavras que de tão simples parecem complexas. A hora de ser inteira e a hora de catar meus pedaços pelo mundo enquanto você dá sinais desmembrados. Eu não consigo nada disso, eu me embanano toda, misturo tudo, bagunço tudo. A minha única dúvida é se sou a única idiota a fazer isso comigo ou se sou a única idiota a admitir que faço isso comigo.

Eu e o resto do mundo Eu sentia tudo e com muita particularidade desde que começou a sentir alguma coisa. Tudo começou no dia em que sentiu sua primeira raiva, lembra bem. O dia em que quebrou seu único e primeiro dente. Depois desse dia, eu combinou que não perderia mais nenhum dente sequer. E cumpriu. Nenhum dente de leite caiu, todos tiveram de ser arrancados com anestesia. As raízes eram imensas e fortes. Eu isso, eu aquilo, eu, eu, eu. Desde pequenininho essa força absurda pronta pra destruir brocas ou a si mesmo. O resto do mundo fritava menos, enquanto isso. Quem ter irmãos, pensa menos como é um absurdo nascer. O resto do mundo via que do mesmo buraco outros tinham chegado. O resto do mundo seguiu a carreira que todo o resto do mundo segue. O resto do mundo ganhou dinheiro porque o resto do mundo, a sua volta, ganhava. O resto do mundo achava que alguma coisa ia mal, alguma coisa faltava. Mas vai ver que é assim com todo mundo. Eu sabia que faltava alguma coisa e que essa coisa que faltava, dessa maneira e desse jeito, era algo muito seu. Por isso escolheu fazer uma coisa que mais ninguém no mundo poderia fazer a não ser eu mesmo. Eu tinha tanto o que pensar e sentir, que refutou muitas coisas. Eu podia parecer preconceituoso, mas era apenas ocupado em si mesmo. O que parecia um erro terrível, mas era só um medo filho da puta do resto do mundo. O resto do mundo continuava achando que algo faltava e então chamou isso de tristeza. E então, ficou perto de gente triste, pra poder ser triste. Se o resto do mundo fosse eu, ficaria triste e pronto. Mas o resto do mundo precisava de mundo, pra sugar e tal. Ainda que depois, se fechasse em seu mundo pra brincar de eu. Depois achou que lhe faltava morte, e ficou perto da morte. Depois achou que lhe faltavam palavras e assim fez, morou com as palavras por anos. Até que as emprestou e virou um pouco as palavras. O resto do mundo é música, é letra, é história, é tudo. O resto do mundo é gigantesco. Mas tem um medo filho da puta de ser eu. Eu também adora brincar de resto do mundo. Sai sempre que pode de casa. Experimenta tudo. Tenta entrar nas coisas. Tenta deixar as coisas um pouco dentro de si. Logo vem o medo de vomitar. De expulsar tudo que não é eu. Eu precisa do resto do mundo perto o tempo todo, para senti-lo. De longe, eu só sente eu. Eu ri do resto do mundo. Um misto de nervoso, arrogância, ritual de sobrevivência e servidão. Eu virou eu justamente pra se proteger do resto do mundo. Então, quando escuta que é amado pelo mundo, duvida, provoca e espanta. O resto do mundo virou resto do mundo justamente porque ser eu enlouquece e é limitado. Então, por mais que eu seja esperto, o resto do mundo só vê um rato de laboratório, preso e correndo em sua esteirinha. Eu adoraria casar e ter filhos e construir um lar. Mas para isso teria que ser um pouco nós. O que é quase a morte. O resto do mundo pode ser tantas coisas, pode se vestir de tantas coisas, que não é e nem quer coisa de ninguém em específico. E também acabou sozinho. Eu come pouco e vive enjoado. O resto do mundo engole o que vê pela frente e vive com dor de estômago. Um é ligado demais por dentro, não quer mais do que é porque o que é já quase o explode. O outro nem lembra o que esse por dentro agüenta, de tanto que carrega tudo pra ser algo. Pode tanto tudo que tudo banaliza. Eu diz coisas feias que saem sem filtro e de dentro. O resto do mundo diz coisas lindas que já chegaram filtradas, de fora. Os dois sabem do que o outro está falando, mas é que dá uma preguiça desgraçada parar de brincar só porque a bola caiu do outro lado do muro. Eu e o resto do mundo, são seres solitários que se atacam. Cada um pra defender o seu ser de tantos mil anos. Um sem saber o que fazer com o amargo que desce da boca pro cu. O outro sem saber o que fazer com o amargo que sobe do cu pra boca. Um com medo do que pode calar tantas certezas conquistadas na ignorância, o outro com medo da voz trêmula que poderia ter a sua inteligência se não estivesse pautada em algo. Eu não sabe o que sente, mas diz mesmo assim. O resto do mundo tem certeza do que sente, mas quando diz, fala pelo resto do mundo. Eu entende só de si, o que já é uma humanidade inteira. O resto do mundo entende de todo o resto, o que faz eu parecer uma criança de cinco anos se debatendo pra entender tanta vontade de chorar ou de ser feliz. Eu e o resto do mundo desistiram de se amar em suas roupas rasgadas pela luta. Mas nus, eu empresta do resto do mundo um silêncio que seu eu jamais lhe daria. Ter o resto do mundo dentro de si é a morte mais feliz. Ainda que doa e ainda que seja morte. E o resto do mundo pára, quem diria. O mundo pára pra ver eu. O mundo pára para ver como eu sente e se explica sem fim. Sem eu, o mundo é um lugar enorme, mas sem vida passeando em suas riquezas. Eu precisa do mundo para ser lido. E o resto do mundo precisa de eu para ser livro. Depois eu volta a sentir tudo com uma solidão avassaladora. Depois o resto do mundo volta a rodar. A rodar e atropelar eu. A rodar e trucidar eu. Eu volta a martelar em si. O resto do mundo volta a somar todos os martelos do mundo para se sentir martelado. Cada um na sua despedida egoísta, vingativa e perdoável. Na sua vida a dois que não existe a não ser por essa intersecção, no ponto onde eu se esquece pra pertencer e o resto do mundo se encontra pra ser alguma coisa. Não é inveja isso que nutrem um pelo outro. Nem ciúme. Nem ódio. Nem maldade. É absurdo. É só absurdo. Algo tão parecido com amor que confunde a vida.

E por que vendo tanto meu corpo e tão pouco minha alma? Porque quero ver você comprando o que realmente quer e não enganando querer para levar a promoção. O amor não existe, e, se existe, não dura pra sempre. E, se não dura pra sempre, não é amor. E nada dura pra sempre. E então o amor não existe. A verdade é que ninguém se entrega porque ninguém se tem. Agradeço-lhe a vontade de errar, sem ela minha vida não parece certa. Traga um agasalho para esquentar a minha falta de amor e ganhe em troca um ingresso para a minha fidelidade. Não espere o horário do trânsito livre, não espere ouvir o que você não quer, não espere a vida dar merda para colocar a culpa na vida.

Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo.

Eu não faço desfile de moda todos os segundos do meu dia porque me acho bonita sem precisar de chapinha, salto alto e peito de pomba. Eu tenho pena das mulheres que correm o tempo todo atrás de se tornarem a melhor fruta de uma feira. Pra depois serem apalpadas e terem seus bagaços cuspidos.

...por que raios toda vez que eu to me achando muuuuito foda, muuuito feliz e muuuito amando algo, algum merda vem e me lembra que eu não sou porra nenhuma? Heim, Deus? Deeee-us, to falando com vocêêê!

Cansei de quem gosta como se gostar fosse mais uma ferramenta de marketing. Gostar aos poucos, gostar analisando, gostar duas vezes por semana, gostar até as duas e dezoito. Cansei de gente que gosta como pensa que é certo gostar. Gostar é essa besta desenfreada mesmo. E não tem pensar. E arrepia o corpo inteiro, mas você não sabe se é defesa para recuar ou atacar. Eu eu gosto de você porque gostar não faz sentido

Porque, quando você está com medo da vida, é na minha mania de rir de tudo que você encontra forças. E, quando você está rindo de tudo, é na minha neurose que encontra um pouco de chão. E, quando precisa se sentir especial e amado, é pra mim que você liga. E, quando está longe de casa gosta de ouvir minha voz pra se sentir perto de você. E, quando pensa em alguém em algum momento de solidão, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais safado, é em mim que você pensa.

Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo.

Pessoas são interessantes só na minha imaginação. A partir do momento que elas passam a ter vida própria, sinto vontade de jogá-las pela minha janela.

Sei que você não compreende o que digo , mas compreenda que eu também não compreendo.*

Prefiro ser perseguida pelo meu desejo, que não tem dia para acabar, do que ser abandonada mais uma vez pelo seu, que dura no máximo uma noite.

No vazio cabe um monte de coisa, mas nenhuma se encaixa. Todas deslizam pelo rio de lágrimas que inundam todos os meus andares vazios. A hora que eu chorar, vai ser o choro mais triste do mundo.

-Eu não te ligo. Apenas estou te ligando. Eu não bebo. Apenas estou bebendo. Eu não lembro que você existe. Apenas estou lembrando.

A vida é uma imagem que não diz nada, mas nos aquece de alguma maneira.

Você tem cheiro de roupa limpinha com mente suja e eu quero te rasgar inteiro. Mas apenas te dou um beijinho no rosto. Preciso me comportar.