Livros de Martha Medeiros

Sobre o Autor

Martha Medeiros

Martha Medeiros é uma jornalista e escritora brasileira. É colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de O Globo, do Rio de Janeiro.

Melhores Livros de Martha Medeiros

Certas ocasiões ainda me parecem suficientemente fortes para resistirem intactas na nossa lembrança, e apenas nela. — por

Os metereologistas costumam avisar com mínimo de antecedência quando a natureza vai sofrer um fenônemo climático, quando um temporal está a caminho, quando é hora de retirar as roupas do varal, ou nos casos mais extremos reforçar portas e janelas. Mas, ainda não inventaram um recurso tecnológico para avisar quando um homem vai entrar na sua vida e fazer o chão tremer.. Você foi o abalo sísmico totalmente inesperado, e antes que pudesse me defender, deu-se início da minha devastação.

“Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e, se faltar luz, tanto melhor. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.”

Por fim, pare de pensar. É o melhor conselho que um amigo pode dar a outro: pare de fazer fantasias, sentir-se perseguido, neurotizar relações, comprar briga por besteira, maximizar pequenas chatices, estender discussões, buscar no passado as justificativas para ser do jeito que é, fazendo a linha “sou rebelde porque o mundo quis assim”. Sem essa. O mundo nem estava prestando atenção em você, acorde. Salve-se dos seus traumas de infância. Quem não consegue sozinho, deve acudir-se com um terapeuta. Só não pode esquecer: sem amizade por si próprio, nunca haverá progresso possível, como bem escreveu Sêneca cerca de 2 mil anos atrás. Permanecerá enredado em suas próprias angústias e sendo nada menos que seu pior inimigo.

... uma vida sem amigos é uma vida vazia. O mundo é muito maior que a sala e a cozinha do nosso apartamento. A arte proporciona um sem-número de viagens essenciais para o espírito. Amar é disparado a coisa mais importante que existe. Crônica: Antes de partir - Doidas e Santas

A saudade não tem nada de trivial. Interfere em nossa vida de um modo às vezes sereno, às vezes não. É um sentimento bem-vindo, pois confirma o valor de quem é ou foi importante para nós, e é ao mesmo tempo um sentimento incômodo, porque acusa a ausência, e os ausentes sempre nos doem. Crônica: Matando a saudade em sonho - Doidas e Santas

Eu queria que a vida fosse dividida em quatro estágios, mas que não acabasse nunca. A infância é como a primavera. É pura novidade e um calor que não sufoca nem faz pensar bobagens. Tem uma inocência quase cafona, uma singeleza clássica, e traz no íntimo a certeza de que pela frente vem coisa boa. A gente quer que passe logo, mas sabe que nunca mais será tão protegido, a mordomia não será eterna. É quando as coisas acontecem pela primeira vez, é quando num arbusto verde vemos surgir alguns vermelhos, é surpresa, a primeira de uma série. A adolescência é como o verão. Quente, petulante, libidinosa. Parece que não vai haver tempo para fazer tudo o que se quer e o que se teme. É musical e fotogênica. Dúvidas, dúvidas, dúvidas em frente ao mar. Mergulha-se no profundo e no raso. Pouca roupa, pouca bagagem. Curiosidade. Vontade que dure para sempre, certeza de que passa. Noção do corpo. Festas e religião. Amor e fé. A maturidade é como o outono. Um longo e instável outono, que alterna dias quentes e frios, que nos emociona e nos gripa. Há mais beleza e o ar é mais seco, porém é quando se colhem os melhores abraços. Ficar sozinho passa a não ser tão aterrorizante. Fugimos para a praia, fugimos para a serra, as idéias aprendem a se movimentar, a fazer a mala rápido, a trocar de rota se o desejo se impuser, e não é preciso consultar o pai e a mãe antes de errar. É o outono que tentamos conservar. O inverno é como a velhice. Tem sua beleza igualmente, exige lã, bolsa de água quente, termômetro e uma janela bem vedada. O que não queremos que entre? Maus presságios. O inverno é frio como despedida de um grande amor, mas sabemos que tudo voltará a ser ameno. Queremos que passe, temos medo que termine. Ficar sozinho volta a ser aterrorizante. O inverno é branco, é cinza, é prata. É grisalho. E, de repente, também passa. Eu queria que tudo fosse verdade, que a vida fosse assim dividida em quatro estágios que mais parecem estações do ano, mas que não acabasse, que depois do inverno viesse outra primavera, e outro verão, e outro outono, que nunca são iguais, mas sempre se repetem, sempre voltam, são tão certos quanto o sol e a lua, todo dia, toda noite. Eu queria.

Fico besta com quem perde a compostura por não gostar de algo ou alguém: tão mais simples desconectar. Não ouça, não leia, não prestigie. Dê atenção ao que tem sintonia com você. E toque sua vida, sem agredir.

Quanto mais longe se olha, melhor se enxerga o que está perto.

O silêncio absoluto, quando não vela nosso sono, diverte-nos torturando. Crônica: Dia e noite - Trem Bala

O tempo não cura tudo. Aliás o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções. Crônica: O centro das atenções - Trem Bala

Se uma mulher conseguir manter o dom de ser velha quando jovem e jovem quando velha , ela sempre saber o que vem depois. Crônica: O jogo da velha - Trem Bala

Se há algo para mudar que seja dentro da gente, onde não é preciso fazer reserva nem gastar uma nota para virar uma pessoa melhor. Crônica: Feliz você novo - Trem Bala

Apenas seguir em frente. Primeiro, porque nenhum amor deve ser mendigado. Segundo, porque todo amor deve ser recíproco.

Reclamar do tédio é fácil, difícil é levantar da cadeira para fazer alguma coisa que nunca se fez.

Tudo o que nos fez feliz ou infeliz serve para montar o quebra-cabeça da nossa vida, um quebra-cabeça de cem mil peças.

Crescer custa, demora, esfola, mas compensa. É uma vitória secreta, sem testemunhas.

Até que um dia compreendi que compreender não é tudo.

Costumamos compreender as coisas tarde demais.

...Por favor, Não tentem borrar os meus dias. Eles já estão ótimos pintados da cor que estão...

É o tempo que determina o valor de todas as coisas.

Tudo é uma questão de humor e de atitude: mude

A cada manhã, exijo ao menos a expectativa de uma surpresa, quer ela aconteça ou não. Expectativa, por si só, já é um entusiasmo.

Quero intimidade. Fazer cena de ciúme, terminar, voltar, amar, brigar de novo, telefonar, pedir desculpas, retornar…

Eu não sou nada disso que você está pensando. Por isso venha com calma, que eu conheço este tipo. Quem quer acertar na mosca, acaba errando de sopa.

Quando fazemos uma escolha, qualquer escolha, estamos dizendo sim para um lado e não para o outro. Então, algum sofrimento sempre vai haver.

O fim de um romance quase nunca tem a ver com os rompimentos de novela, onde a mocinha abre mão do amado porque alguém a está chantageando ou porque descobriu de um dia para o outro que ele é, na verdade, seu irmão gêmeo. No último capítulo tudo se esclarece e a paixão segue sem cicatrizes, Já rompimentos causados por decepções e incompatibilidades reais não são assim tão fáceis de serem contornados.

Tentar outra vez o mesmo amor. Quem já não caiu nesta armadilha? Se ele também estiver sozinho, é sopa no mel. Os dois já se conhecem de trás para a frente. Não precisam perguntar o signo: podem pular esta parte e ir direto ao que interessa. Sabem o prato favorito de cada um, se gostam de mar ou de montanha, enfim, está tudo como era antes, é só prorrogar a vigência do contrato. Tanto um como o outro sabem de cor o seu papel.

Certos namorados brigam dia sim, dia não. Na sexta se amam, no sábado se odeiam, no domingo fazem as pazes, na segunda prometem nunca mais se ver. São amores movido à adrenalina, que rendem bons versos e letras de música. Muito destes casais conseguem chegar ao altar e continuam entre tapas e beijos até as bodas de ouro. Brigam e voltam tantas, mas tantas vezes, que na verdade nunca chegam a se separar. Deixe que digam, que pensem, que falem. O amor é lindo.

Tem gente à beça no mundo. Dessas bilhões, somente centenas (quando tanto) chamam nossa atenção ao longo da vida. Gostamos de dezenas. Nos importamos verdadeiramente com, vamos ver, uma dúzia no máximo. Amamos muito poucas, quando amamos. A probabilidade de encontrar alguém que nos desperte esse sentimento é a mesma de encontrar o MM vermelho em época de promoção: mínima, mas a esperança nos mantém abrindo pacotinhos. De vez em quando cansamos e nos conformamos com os azuis e os amarelos. Mas, no íntimo, pensamos em quão delicioso seria descobrir o vermelho. Em qual sensação provar o amor nos traria. Elucubramos, sonhamos acordados – mas a vida continua e não se pode viver de sonhos. Eventualmente esquecemos o bem-fadado vermelhinho e sacamos que a felicidade está em se entregar à cor que se tem ou não se entregar a cor nenhuma (viver sozinho, para alguns, é um alento. Pra mim, um tormento). Desencanamos desse papo de amor: uns por acharem que o encontraram – ou por terem-no encontrado de verdade -, outros por acharem que não existe. E tem os desesperados, compulsivos por abrir pacotinhos (o que é, diga-se, um ótimo meio de ficar infeliz). Enfim: nos acostumamos com o que criamos para nós, afinal cada um escolhe a história que quer viver. E se o enredo não for dos melhores, não adianta culpar os atores – quem escolheu o elenco foi você. Quem escreveu as falas ridículas também. Transferir responsabilidade é muito feio, já te disseram isso? Daí, no meio de uma atividade banal qualquer – andar pela calçada, passear com o cachorro, jantar fora – alguém nos oferece, despretensiosamente, um pacotinho de MM. Aceitamos, qual o problema? Nessa altura já nem nos lembramos do papo, outrora tão presente, sobre o vermelho: o assunto morreu por falta de água. Rasgamos o pacotinho e… O que é isso?! É ele. Com sua cor vibrante, sua magia. Não, não era sonho: ele existe e está, nesse instante, em suas mãos. E a promoção está em vigor. Não é o máximo?! Então tudo o que desejamos pode se tornar realidade. A alegria de acordar com alguém e adorar observar seu rosto mesmo com marcas de travesseiro. A vontade de que o final de semana se anuncie logo e as horas juntos se multipliquem (sabe o sintoma mais evidente do fim de uma relação? Quando nos pegamos torcendo para a chegada da segunda-feira). A dor de estômago que se dá só de pensar em viver sem o sorriso acolhedor e as pequenas trapalhadas. Diante daquele vermelho, finalmente temos a certeza: tudo isso pode ser nosso. É impossível não ficar bobo-alegre. A vida que levamos até então pode ter sido boa, mas nada comparada à descoberta do amor que sempre acreditamos existir. Mesmo quando fingimos não acreditar. Ficamos inebriados, e nesse atordoamento, prestamos atenção demais em nossos delírios e cometemos um erro gigante: paramos de prestar atenção no MM vermelho. Sem querer. É como bicho de estimação: enchemos de mimos e cuidados nas primeiras semanas, mas, com o tempo, ele faz tão parte de nossa vida que não nos damos mais conta de sua real importância e diminuímos, sem notar, a atenção e o carinho. Descuidamos. E é aí que acontece: MM cai no bueiro. Ou outra pessoa passa por nós e, como se nada fosse, o tira de nossas mãos. Quando notamos, o perdemos. E como dói lembrarmos como era bom. Ou poderia ter sido. Ailin Aleixo