Machado de Assis foi um escritor e poeta brasileiro. Foi o fundador da Academia Brasileira de Letras e é famoso por muitos de seus livros, como Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba e O Alienista.
Ninguem faz mal a um homem no mesmo instante em que vai pedir-lhe um favor.
Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos.
Ruínas
(...)
Risos não tem, e em seu magoado gesto
Transluz não sei que dor oculta aos olhos;
Dor que à face não vem, medrosa e casta,
Íntima e funda; e dos cerrados cílios
Se uma discreta muda
Lágrima cai, não murcha a flor do rosto;
Melancolia tácita e serena,
Que os ecos não acorda em seus queixumes,
Respira aquele rosto. A mão lhe estende
O abatido poeta.
Ei-los percorrem
Com tardo passo os relembrados sítios,
Ermos depois que a mão da fria morte
Tantas almas colhera.
Desmaiavam, nos serros do poente,
As rosas do crepúsculo.
Quem és? pergunta o vate; o sol que foge
No teu lânguido olhar um raio deixa;
Raio quebrado e frio; o vento agita
Tímido e frouxo as tuas longas tranças.
Conhecem-te estas pedras; das ruínas
Alma errante pareces condenada
A contemplar teus insepultos ossos.
Conhecem-te estas árvores. E eu mesmo
Sinto não sei que vaga e amortecida
Lembrança de teu rosto.
Desceu de todo a noite,
Pelo espaço arrastando o manto escuro
Que a loura Vésper nos seus ombros castos,
Como um diamante, prende. Longas horas
Silenciosas correram. No outro dia,
Quando as vermelhas rosas do oriente
Ao já próximo sol a estrada ornavam
Das ruínas saíam lentamente
Duas pálidas sombras:
O poeta e a saudade.
Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos.
Crê em ti;mas nem sempre duvídes dos outros.
A borboleta ,depois de esvoaçar muito em torno de mim,pousou-me na testa.
Grande coisa é haver recebido do céu uma particula da sabedoria,o dom de achar as relações das coisas,a faculdade de as comparar e o talento de concluir!
Escrevia-a com a pena da galhofa e atinta da melancolia,e não é dificíl antever o que poderá sair desse conúnbio.
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde.
A vida é boa.
Umas coisas nascem de outras, enroscam-se, desatam-se, confundem-se, perdem-se, e o tempo vai andando sem se perder de si...
Não há amor possível sem a oportunidade dos sujeitos.
As pessoas valem o que vale a afeição da gente.
E, é daí que mestre povo tirou aquele adágio que, quem o feio ama bonito lhe parece.
Depois, querida, ganharemos o mundo!
A fortuna troca, ás vezes, os cálculos da natureza.
Suporta-se com muita paciência a dor no fígado alheio.
Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular.
A vaidade é um princípio de corrupção.
O destino, como os dramaturgos, não anuncia as peripécias nem o desfecho.
De todas as coisas humanas, a única que tem o fim em si mesma é a arte.
Amor repelido é amor multiplicado.
O tempo é um rato roedor das coisas, que as diminui ou altera no sentido de lhes dar outro aspecto.
Dormir é um modo interino de morrer.
O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito, desfaz-se - basta a simples reflexão.
Também a dor tem suas hipocrisias.
Não se perde nada em parecer mau - ganha-se tanto como em sê-lo.
O amor é o egoísmo duplicado.
Os dois horizontes
Dois horizontes fecham nossa vida:
Um horizonte, a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, sempre escuro,
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.
Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.
Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.
No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.
Que cismas, homem? Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.
Dois horizontes fecham nossa vida.
Relíquia íntima
Ilustríssimo, caro e velho amigo,
Saberás que, por um motivo urgente,
Na quinta-feira, nove do corrente,
Preciso muito de falar contigo.
E aproveitando o portador te digo,
Que nessa ocasião terás presente,
A esperada gravura de patente
Em que o Dante regressa do Inimigo.
Manda-me pois dizer pelo bombeiro
Se às três e meia te acharás postado
Junto à porta do Garnier livreiro:
Senão, escolhe outro lugar azado;
Mas dá logo a resposta ao mensageiro,
E continua a crer no teu Machado.