Livros de Fernando Pessoa

Sobre o Autor

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa foi um poeta e escritor português, nascido em Lisboa. É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa e da literatura universal.

Melhores Livros de Fernando Pessoa

Este livro é a biografia de alguém que nunca teve vida...

E perder um defeito, ou uma deficiência, ou uma negação, sempre é perder.

Mesmo a circunstância de eu ir publicar um livro vem alterar a minha vida. Perco uma coisa - o ser inédito.

Sou feito das ruínas do inacabado e é uma paisagem de desistências que definiria meu ser.

G. Junqueiro? Tenho uma grande indiferença pela obra dele. Já o vi... Nunca pude admirar um poeta que me foi possível ver.

Há tanta suavidade em nada se dizer e tudo se entender.

Sou metade sonânbulo e outra parte nada

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas possam ir embora.Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.

Navegar é preciso. Viver não.

Navegar é preciso; viver não é preciso

Sei que nunca terei o que procuro E que nem sei buscar o que desejo, Mas busco, insciente, no silêncio escuro E pasmo do que sei que não almejo.

Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive.

Descobri que a leitura é uma espécie de sonho escravizador, se devo sonhar porque não sonhar os meus próprios sonhos.

Sem verdade, sem dúvida, nem dono. Boa é a vida, mas melhor é o vinho. O amor é bom, mas é melhor o sono.

Sou definitivamente contra o definido, porque o definido é o bastante e o bastante não basta

Sou o que penso, mas penso ser tantas coisas.

Que idéia tenho eu das cousas? Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma E sobre a criação do Mundo? Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos Enão pensar. É correr as cortinas Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

Ó céu azul - o mesmo da minha infância - Eterna verdade vazia e perfeita! Ó macio Tejo ancestral e mudo, Pequena verdade onde o céu se reflete! ... Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Assim, como sou, tenham paciência! Vão para o diabo sem mim, Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! Para que havermos de ir juntos? Não me peguem no braço! Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho. Já disse que sou sozinho! Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Não: Não quero nada. Já disse que não quero nada. Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer. Não me tragam estéticas! Não me falem em moral! ... Se têm a verdade, guardem-a! Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são. Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir. “Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo”. Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o princípio, é o nosso conceito do mundo. É em nós que as paisagens têm paisagem. Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como às outras. Para quê viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e género das minhas sensações? A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.

“A paixão é um pânico das emoções, e como o pânico — que nisto se distingue do medo — estilhaça a inibição, desorienta o espírito, vira o indivíduo contra as suas próprias aquisições mentais superiores, e muitas vezes o conduz a fazer o que mal sabe que faz, ou que a própria paixão se fosse menor, como o pânico se não fosse mais que medo, o levaria ou aconselharia a não fazer.

Estou num dia em que me pesa, como uma entrada no cárcere, a monotonia de tudo. O mundo é coisas destacadas e arestas diferentes; mas, se somos míopes, é uma névoa insuficiente e contínua. O meu desejo é fugir. (...) Quero não ver mais estes rostos, estes hábitos e estes dias. Desejo partir (...) para o lugar qualquer que tenha em si o não ser este lugar.

Há METAFÍSICA bastante em não pensar nada.

Não há substância de pensamento na matéria de alma com que penso...

Onde tenho o meu pensamento que me dói estar sem ele,

Que sonhos?... Eu não sei se sonhei...Que naus partiram, para onde? Tive essa impressão sem nexo porque no quadro fronteiro Naus partem - naus não, barcos, mas as naus estão em mim,

E pode levantar-me desta poltrona deixando os sonhos no chão...

A impossibilidade de tudo quanto eu nem chego a sonhar

Tenho dito tantas vezes, quanto sofro sem sofrer, que me canso dos revezes, que sonho só para os não ter.