Livros de Chico Buarque

Talvez seja da minha natureza não me sentir pertencendo totalmente a lugar nenhum, em lugar nenhum.

Sobre o Autor

Chico Buarque

Chico Buarque de Hollanda (19 de junho de 1944, Rio de Janeiro), músico brasileiro. É considerado um dos maiores nomes da MPB - Música Popular Brasileira.

Melhores Livros de Chico Buarque

Mais frases de Chico Buarque

Que saudade é o pior tormento, é pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar...

...e se vai continuar enrustido com essa cara de marido, a moça é capaz de se aborrecer... Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz...

O que será ser só Quando outro dia amanhecer? Será recomeçar? Será ser livre sem querer?

Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia

Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim E decretou que eu tava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim

A felicidade Morava tão vizinha Que, de tolo Até pensei que fosse minha

Quando amo Eu devoro Todo o meu coração Eu odeio Eu adoro Numa mesma oração

Por favor Deixe em paz meu coração Que ele é um pote até aqui de mágoa E qualquer desatenção, faça não Pode ser a gota dágua

Oh, pedaço de mim Oh, metade afastada de mim Leva o teu olhar Que a saudade é o pior tormento É pior do que o esquecimento É pior do que se entrevar

Hoje na solidão ainda custo A entender como o amor foi tão injusto Pra quem só lhe foi dedicação

Vou colecionar mais um soneto Outro retrato em branco e preto A maltratar meu coração

Tem dias que a gente se sente Como quem partiu ou morreu A gente estancou de repente Ou foi o mundo então que cresceu

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem Que é pra te dar coragem Pra seguir viagem Quando a noite vem E também pra me perpetuar em tua escrava Que você pega, esfrega, nega Mas não lava

Quem me vê sempre parado, distante Garante que eu não sei sambar Tou me guardando pra quando o carnaval chegar

Olhos nos olhos, quero ver o que você faz Ao sentir que sem você eu passo bem demais Olhos nos olhos, quero ver o que você diz Quero ver como suporta me ver tão feliz

...Venha, meu amigo. Deixe esse regaço. Brinque com meu fogo. Venha se queimar. Faça como eu digo. Faça como eu faço. Aja duas vezes antes de pensar... Eu semeio o vento. Na minha cidade. Vou pra rua e bebo a tempestade...

Atras da porta Quando olhaste bem nos olhos meus E o teu olhar era de adeus Juro não acreditei Eu te estranhei me debrucei, sobre o teu corpo e duvidei E me arrastei de te arranhei E me agarrei nos teus cabelos Nos teus pêlos, no teu pijama Nos teus pés, ao pé da cama. Sem carinho sem coberta No tapete atrás da porta Reclamei baixinho Dei pra maldizer o nosso lar Para sujar teu nome te humilhar E me vingar a qualquer preço Te adorando pelo avesso Pra mostrar que ainda sou tua Só para mostrar que ainda sou tua...

De todas as maneiras Que há de amar Nós já nos amamos Com todas as palavras feitas pra sangrar Já nos cortamos Agora já passa da hora Tá lindo lá fora Larga a minha mão Solta as unhas do meu coração Que ele está apressado E desanda a bater desvairado Quando entra o verão

DESENCONTRO A sua lembrança me dói tanto Eu canto pra ver Se espanto esse mal Mas só sei dizer Um verso banal Fala em você Canta você É sempre igual Sobrou desse nosso desencontro Um conto de amor Sem ponto final Retrato sem cor Jogado aos meus pés E saudades fúteis Saudades frágeis Meros papéis Não sei se você ainda é a mesma Ou se cortou os cabelos Rasgou o que é meu Se ainda tem saudades E sofre como eu Ou tudo já passou Já tem um novo amor Já me esquece

EU TE AMO Ah, se já perdemos a noção da hora Se juntos já jogamos tudo fora Me conta agora como hei de partir Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios Rompi com o mundo, queimei meus navios Me diz pra onde é que inda posso ir Se nós, nas travessuras das noites eternas Já confundimos tanto as nossas pernas Diz com que pernas eu devo seguir Se entornaste a nossa sorte pelo chão Se na bagunça do teu coração Meu sangue errou de veia e se perdeu Como, se na desordem do armário embutido Meu paletó enlaça o teu vestido E o meu sapato inda pisa no teu Como, se nos amamos feito dois pagãos Teus seios inda estão nas minhas mãos Me explica com que cara eu vou sair Não, acho que estás só fazendo de conta Te dei meus olhos pra tomares conta Agora conta como hei de partir

... Amando noites afora Fazendo a cama sobre os jornais Um pouco jogados fora Um pouco sábios demais Esparramados no mundo Molhamos o mundo com delícias As nossas peles retintas De notícias...

Até Pensei... Junto à minha rua havia um bosque Que um muro alto proibia Lá todo balão caia Toda maçã nascia E o dono do bosque nem via Do lado de lá tanta aventura E eu a espreitar na noite escura A dedilhar essa modinha A felicidade Morava tão vizinha Que, de tolo Até pensei que fosse minha Junto a mim morava a minha amada Com olhos claros como o dia Lá o meu olhar vivia De sonho e fantasia E a dono dos olhos nem via Do lado de lá tanta ventura E eu a esperar pela ternura Que a a enganar nuca me via Eu andava pobre Tão pobre de carinho Que, de tolo Até pensei que fosse minha Toda a dor da vida Me ensinou essa modinha Que, de tolo Até pensei que fosse minha

Carolina Carolina Nos seus olhos fundos Guarda tanta dor A dor de todo esse mundo Eu já lhe expliquei que não vai dar Seu pranto não vai nada mudar Eu já convidei para dançar É hora, já sei, de aproveitar Lá fora, amor Uma rosa nasceu Todo mundo sambou Uma estrela caiu Eu bem que mostrei sorrindo Pela janela, ói que lindo Mas Carolina não viu Carolina Nos seus olhos tristes Guarda tanto amor O amor que já não existe Eu bem que avisei, vai acabar De tudo lhe dei para aceitar Mil versos cantei pra lhe agradar Agora não sei como explicar Lá fora, amor Uma rosa morreu Uma festa acabou Nosso barco partiu Eu bem que mostrei a ela O tempo passou na janela Só Carolina não viu

Construção Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu a construção como se fosse máquina Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Tijolo com tijolo num desenho mágico Seus olhos embotados de cimento e lágrima Sentou pra descansar como se fosse sábado Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago Dançou e gargalhou como se ouvisse música E tropeçou no céu como se fosse um bêbado E flutuou no ar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito um pacote flácido Agonizou no meio do passeio público Morreu na contramão atrapalhando o tráfego Amou daquela vez como se fosse o último Beijou sua mulher como se fosse a única E cada filho seu como se fosse o pródigo E atravessou a rua com seu passo bêbado Subiu a construção como se fosse sólido Ergueu no patamar quatro paredes mágicas Tijolo com tijolo num desenho lógico Seus olhos embotados de cimento e tráfego Sentou pra descansar como se fosse um príncipe Comeu feijão com arroz como se fosse máquina Dançou e gargalhou como se fosse o próximo E tropeçou no céu como se ouvisse música E flutuou no ar como se fosse sábado E se acabou no chão feito um pacote tímido Agonizou no meio do passeio náufrago Morreu na contramão atrapalhando o público Amou daquela vez como se fosse máquina Beijou sua mulher como se fosse lógico Ergueu no patamar quatro paredes flácidas Sentou pra descansar como se fosse um pássaro E flutuou no ar como se fosse um príncipe E se acabou no chão feito um pacote bêbado Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Soneto Por que me descobriste no abandono Com que tortura me arrancaste um beijo Por que me incendiaste de desejo Quando eu estava bem, morta de sono Com que mentira abriste meu segredo De que romance antigo me roubaste Com que raio de luz me iluminaste Quando eu estava bem, morta de medo Por que não me deixaste adormecida E me indicaste o mar, com que navio E me deixaste só, com que saída Por que desceste ao meu porão sombrio Com que direito me ensinaste a vida Quando eu estava bem, morta de frio

Será que ela é moça?, Será que ela é triste?, Será que é o contrário??

Deixe em paz meu coração Que ele é um pote até aqui de mágoa

Quero inventar o meu próprio pecado Quero morrer do meu próprio veneno.

Está provado, quem espera nunca alcança.

Corro atrás do tempo. Vim de não sei onde. Devagar é que não se vai longe.

Eu semeio vento na minha cidade, Vou pra rua e bebo a tempestade.

Ouça um bom conselho Que eu lhe dou de graça Inútil dormir que a dor não passa.

Pense que eu cheguei de leve, machuquei você de leve, e me retirei com pés de lã. Sei que o seu caminho amanhã, será tudo de bom, mas não me leve

A saudade é o revés de um parto.

Guarda-Me, Como a Menina dos seus Olhos. Ela é a Tal, Sei que Ela pode ser Mil, Mas não existe outra igual.

Prefiro, então, partir A tempo de poder A gente se desvencilhar da gente.

Para sempre é sempre por um triz.

E qualquer desatenção,faça não! Pode ser a gota d`água.

...Pois já forjou o seu sorriso E fez do mesmo profissão...

Olhos nos olhos Quero ver o que você diz Quero ver como suporta me ver tão feliz

“Também acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus.”

O que será (À flor da pele) O que será que me dá Que me bole por dentro, será que me dá Que brota à flor da pele, será que me dá E que me sobe às faces e me faz corar E que me salta aos olhos a me atraiçoar E que me aperta o peito e me faz confessar O que não tem mais jeito de dissimular E que nem é direito ninguém recusar E que me faz mendigo, me faz suplicar O que não tem medida, nem nunca terá O que não tem remédio, nem nunca terá O que não tem receita O que será que será Que dá dentro da gente e que não devia Que desacata a gente, que é revelia Que é feito uma aguardente que não sacia Que é feito estar doente de uma folia Que nem dez mandamentos vão conciliar Nem todos os ungüentos vão aliviar Nem todos os quebrantos, toda alquimia Que nem todos os santos, será que será O que não tem descanso, nem nunca terá O que não tem cansaço, nem nunca terá O que não tem limite O que será que me dá Que me queima por dentro, será que me dá Que me perturba o sono, será que me dá Que todos os tremores me vêm agitar Que todos os ardores me vêm atiçar Que todos os suores me vêm encharcar Que todos os meus nervos estão a rogar Que todos os meus órgãos estão a clamar E uma aflição medonha me faz implorar O que não tem vergonha, nem nunca terá O que não tem governo, nem nunca terá O que não tem juízo

Olhos nos olhos Quando você me deixou, meu bem Me disse pra ser feliz e passar bem Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci Mas depois, como era de costume, obedeci Quando você me quiser rever Já vai me encontrar refeita, pode crer Olhos nos olhos, quero ver o que você faz Ao sentir que sem você eu passo bem demais E que venho até remoçando Me pego cantando Sem mas nem porque E tantas águas rolaram Quantos homens me amaram Bem mais e melhor que você Quando talvez precisar de mim Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim Olhos nos olhos, quero ver o que você diz Quero ver como suporta me ver tão feliz

Ai, que saudades que eu tenho Dos meus doze anos Que saudade ingrata Dar banda por aí Fazendo grandes planos E chutando lata Trocando figurinha Matando passarinho Colecionando minhoca Jogando muito botão Rodopiando pião Fazendo troca-troca Ai, que saudades que eu tenho Duma travessura Um futebol de rua Sair pulando muro Olhando fechadura E vendo mulher nua Comendo fruta no pé Chupando picolé Pé-de-moleque, paçoca E disputando troféu Guerra de pipa no céu Concurso de pipoca

O Caderno SOU EU QUE VOU SEGUIR VOCÊ DO PRIMEIRO RABISCO ATÉ O BE-A-BÁ EM TODOS OS DESENHOS COLORIDOS VOU ESTAR A CASA, A MONTANHA, DUAS NUVENS NO CÉU E UM SOL A SORRIR NO PAPEL SOU EU QUE VOU SER SEU COLEGA SEUS PROBLEMAS AJUDAR A RESOLVER SOFRER TAMBEM NAS PROVAS BIMESTRAIS JUNTO A VOCE SEREI SEMPRE SEU CONFIDENTE FIEL SE SEU PRANTO MOLHAR MEU PAPEL SOU EU QUE VOU SER SEU AMIGO VOU LHE DAR ABRIGO SE VOCÊ QUISER QUANDO SURGIREM SEUS PRIMEIROS RAIOS DE MULHER A VIDA SE ABRIRÁ NUM FEROZ CARROSSEL E VOCÊ VAI RASGAR MEU PAPEL O QUE ESTÁ ESCRITO EM MIM COMIGO FICARA GUARDADO SE LHE DA PRAZER A VIDA SEGUE SEMPRE EM FRENTE O QUE SE HÁ DE FAZER SÓ PEÇO A VOCÊ UM FAVOR SE PUDER NÃO ME ESQUEÇA NUM CANTO QUALQUER SÓ PEÇO A VOCÊ UM FAVOR SE PUDER NÃO ME ESQUEÇA NUM CANTO QUALQUER

APROVEITANDO O ENSEJO... Sonhar Mais um sonho impossível Lutar Quando é fácil ceder Vencer o inimigo invencível Negar quando a regra é vender Sofrer a tortura implacável Romper a incabível prisão Voar num limite improvável Tocar o inacessível chão É minha lei, é minha questão Virar esse mundo Cravar esse chão Não me importa saber Se é terrível demais Quantas guerras terei que vencer Por um pouco de paz E amanhã, se esse chão que eu beijei For meu leito e perdão Vou saber que valeu delirar E morrer de paixão E assim, seja lá como for Vai ter fim a infinita aflição E o mundo vai ver uma flor Brotar do impossível chão

Quando ela chora Não sei se é dos olhos pra fora Não sei do que ri (...) (...) Ela faz cinema Ela faz cinema Ela é demais Talvez nem me queria bem Porém faz um bem que ninguém Me faz (...) Ela faz cinema Ela faz cinema Ela é assim Nunca será de ninguém Porém eu não sei viver sem E fim

Todo o Sentimento Preciso não dormir Até se consumar O tempo da gente. Preciso conduzir Um tempo de te amar, Te amando devagar e urgentemente. Pretendo descobrir No último momento Um tempo que refaz o que desfez, Que recolhe todo sentimento E bota no corpo uma outra vez. Prometo te querer Até o amor cair Doente, doente... Prefiro, então, partir A tempo de poder A gente se desvencilhar da gente. Depois de te perder, Te encontro, com certeza, Talvez num tempo da delicadeza, Onde não diremos nada; Nada aconteceu. Apenas seguirei Como encantado ao lado teu.

Ouça um bom conselho Que eu lhe dou de graça Inútil dormir que a dor não passa Espere sentado Ou você se cansa Está provado, quem espera nunca alcança Venha, meu amigo Deixe esse regaço Brinque com meu fogo Venha se queimar Faça como eu digo Faça como eu faço Aja duas vezes antes de pensar Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio o vento Na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade

Essa moça tá diferente, já não me conhece mais. Está pra lá de pra frente, está me passando pra trás. Essa moça tá decidida a se supermodernizar. Ela só samba escondida que é pra ninguém reparar. Eu cultivo rosas e rimas achando que é muito bom. Ela me olha de cima e vai desiventar o som. Faço-lhe um concerto de flauta e não lhe desperto emoção. Ela quer ver o astronauta descer na televisão. Mas o tempo vai, mas o tempo vem. Ela me desfaz. Mas o que é que tem? Que ela só me guarda despeito, que ela só me guarda desdém. Mas o tempo vai. Mas o tempo vem. Ela me desfaz. Mas o que é que tem? Se do lado esquerdo do peito, no fundo, ela ainda me quer bem. Essa moça é a tal da janela que eu me cansei de cantar. E agora está só na dela, botando só pra quebrar.

Vem, me dê a mão; A gente agora já não tinha medo; No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido.

Menino quando morre vira anjo; Mulher vira uma flor no céu; Malandro quando morre vira samba.

Chego a mudar de calçada Quando aparece uma flor E dou risada do grande amor...

Eu cultivo rosas e rimas, achando que é muito bom...

Eu faço samba e amor até mais tarde E tenho muito sono de manhã [In Samba e Amor]

Eu faço samba e amor até mais tarde E tenho muito mais o que fazer Escuto a correria da cidade, que alarde Será que é tão difícil amanhecer? [in Samba e Amor]

Eu vejo as pernas de louça da moça que passa e eu não posso pegar... Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Hoje lembrando-me dela; Me vendo nos olhos dela; Sei que o que tinha de ser se deu; Porque era ela; Porque era eu

(...)Vê como é que anda aquela vida atoa, e se puder me manda uma notícia boa! (Samba de Orly)

Não se afobe não que nada é pra já!

No meu descaminho Diz que estou sozinho E sem saber de mim

Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz E atrás dessa mulher mil homens sempre tão gentis...

Futuros amantes, quica, se amarao sem saber, com o amor que eu um dia deixei para voce

Como é dificil acordar calado. Se na calada da noite eu me dano. Quero lançar um grito desumano.

Arrisquei muita braçada; Na esperança de outro mar; Hoje sou carta marcada; Hoje sou jogo de azar

Um coração saliente bate E bate muito mais que sente

O homem mais forte do planeta Tórax de Superman Tórax de Superman E coração de poeta

Seu homem foi-se embora Prometendo voltar já Mas as ondas não tem hora, morena De partir ou de voltar

Não brilharia a estrela ó bela Sem noite por detrás

DESENCONTRO A sua lembrança me dói tanto Eu canto pra ver Se espanto esse mal Mas só sei dizer Um verso banal Fala em você Canta você É sempre igual Sobrou desse nosso desencontro Um conto de amor Sem ponto final Retrato sem cor Jogado aos meus pés E saudades fúteis Saudades frágeis Meros papéis Não sei se você ainda é a mesma Ou se cortou os cabelos Rasgou o que é meu Se ainda tem saudades E sofre como eu Ou tudo já passou Já tem um novo amor Já me esqueceu

Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...(2x) Como beber Dessa bebida amarga Tragar a dor Engolir a labuta Mesmo calada a boca Resta o peito Silêncio na cidade Não se escuta De que me vale Ser filho da santa Melhor seria Ser filho da outra Outra realidade Menos morta Tanta mentira Tanta força bruta... Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue... Como é difícil Acordar calado Se na calada da noite Eu me dano Quero lançar Um grito desumano Que é uma maneira De ser escutado Esse silêncio todo Me atordoa Atordoado Eu permaneço atento Na arquibancada Prá a qualquer momento Ver emergir O monstro da lagoa... Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue... De muito gorda A porca já não anda (Cálice!) De muito usada A faca já não corta Como é difícil Pai, abrir a porta (Cálice!) Essa palavra Presa na garganta Esse pileque Homérico no mundo De que adianta Ter boa vontade Mesmo calado o peito Resta a cuca Dos bêbados Do centro da cidade... Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue... Talvez o mundo Não seja pequeno (Cálice!) Nem seja a vida Um fato consumado (Cálice!) Quero inventar O meu próprio pecado (Cálice!) Quero morrer Do meu próprio veneno (Pai! Cálice!) Quero perder de vez Tua cabeça (Cálice!) Minha cabeça Perder teu juízo (Cálice!) Quero cheirar fumaça De óleo diesel (Cálice!) Me embriagar Até que alguém me esqueça (Cálice!)

O que a ação revela sobre a pessoa? Ouça um bom conselho que lhe dou de graça Inútil dormir Que a dor não passa Espera sentado ou você se cansa Está provado Quem espera nunca alcança

Sabia, gosto de você chegar assim. arrancando páginas dentro de mim. Desde o primeiro dia. sabia, me apagando filmes geniais. Rebobinando o século. meus velhos carnavais. minha melancolia. Sabia que você ia trazer seus instrumentos. Invadir minha cabeça. onde um dia tocava uma orquestra... Sabia que ia acontecer você, um dia. E claro que já não me valeria nada tudo o que eu sabia.

Por que me descobriste no abandono Com que tortura me arrancaste um beijo Por que me incendiaste de desejo Quando eu estava bem, morta de sono Com que mentira abriste meu segredo De que romance antigo me roubaste Com que raio de luz me iluminaste Quando eu estava bem, morta de medo Por que não me deixaste adormecida E me indicaste o mar com que navio E me deixaste só, com que saída Por que desceste ao meu porão sombrio Com que direito me ensinaste a vida Quando eu estava bem, morta de frio.

Oh, pedaço de mim Oh, metade afastada de mim Leva o teu olhar Que a saudade é o pior tormento É pior do que o esquecimento É pior do que se entrevar Oh, pedaço de mim Oh, metade exilada de mim Leva os teus sinais Que a saudade dói como um barco Que aos poucos descreve um arco E evita atracar no cais Oh, pedaço de mim Oh, metade arrancada de mim Leva o vulto teu Que a saudade é o revés de um parto A saudade é arrumar o quarto Do filho que já morreu Oh, pedaço de mim Oh, metade amputada de mim Leva o que há de ti Que a saudade dói latejada É assim como uma fisgada No membro que já perdi Oh, pedaço de mim Oh, metade adorada de mim Leva os olhos meus Que a saudade é o pior castigo E eu não quero levar comigo A mortalha do amor Adeus

Abre o teu coração Ou eu arrombo a Janela

O olhar de uma mulher faz pouco até de Deus Mas não engana uma outra mulher

As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem.

Imagina hoje à noite a gente se perder Imagina hoje à noite a lua se apagar

Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz...

No palco, na praça, no circo, num banco de jardim, correndo no escuro, pichado no muro... Você vai saber de mim.

E pela minha lei a gente era obrigado a ser feliz, você era a princesa que eu fiz coroar e era tão linda de se adimirar!!!

Quem sabe um dia, por descuido ou poesia, você goste de ficar?

Essa moça tá diferente Já não me conhece mais Está pra lá de pra frente Está me passando pra trás Essa moça tá decidida

Eu bato o portão sem fazer alarde Eu levo a carteira de identidade Uma saideira, muita saudade E a leve impressão de que já vou tarde

Diga ao primeiro que passa; Que eu sou da cachaça ; Mais do que do amor

Venha, meu amigo Deixe esse regaço Brinque com meu fogo Venha se queimar Faça como eu digo Faça como eu faço Aja duas vezes antes de pensar

Eu canto a dor que eu não soube chorar

Nunca é tarde, nunca é demais; Onde estou, onde estás; Meu amor vem me buscar

E qualquer coisa que eu recorde agora, vai doer. A memória é uma vasta ferida.

As pessoas têm medo das mudanças... Eu tenho medo que as coisas não mudem

Não se afobe, não Que nada é pra já O amor não tem pressa Ele pode esperar em silêncio Num fundo de armário Na posta-restante Milênios, milênios No ar

Porém, ai porém Visto que a vida gosta de uns ardis No dia em que ao seu lado ele sonhar feliz, feliz assim Feche então você seus olhos por favor E pode estar certa que o seu novo amor Resolveu voltar pra mim

Quando ela mente; Não sei se ela deveras sente; O que mente pra mim Amores serão sempre amáveis Só vim te convencer; Que eu vim pra não morrer; De tanto te esperar Hoje lembrando-me dela; Me vendo nos olhos dela; Sei que o que tinha de ser se deu; Porque era ela; Porque era eu Outra noite; Outro sono; Como se eu sonhasse o sonho de outro dono Foi um sonho bom; De sonhar porque; Me sonhava com você Quem sou eu para falar de amor; Se de tanto me entregar nunca fui minha Hoje lembrando-me dela; Me vendo nos olhos dela; Sei que o que tinha de ser se deu; Porque era ela; Porque era eu

E por fugir ao contrário, sinto-me duas vezes mais veloz Se você quer mesmo saber; Por que que ela ficou comigo; Eu digo que não sei Andei sete léguas de amor; Chorei sete litros de mar; Mas ela não se saciou; Mas ela não soube esperar É melhor sofrer em dó menor do que você sofrer calado. Bateu uma saudade de ti. Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor Todo dia eu só penso; Em poder parar; Meio-dia eu só penso; Em dizer não Leva os teus sinais; Que a saudade dói como um barco; Que aos poucos descreve um arco; E evita atracar no cais Me leve um pouco com você; Eu gosto de qualquer lugar; A gente pode se entender; E não saber o que falar Mas depois de um ano eu não vindo; Ponha a roupa de domingo e pode me esquecer Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci, mas depois como era de costume, obedeci. Quando talvez precisar de mim, cê sabe que a casa é sempre sua. Quem sou eu para falar de amor, se o amor me consumiu até a espinha? E quando ela está nos meus braços; As tristezas parecem banais; O meu coração aos pedaços; Se remenda prum número a mais Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar. Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando e não posso falar. Mas na manhã seguinte; Não conta até vinte; Te afasta de mim; Pois já não vales nada; És página virada; Descartada do meu folhetim E nada como um tempo após um contratempo; Pro meu coração E me vingar a qualquer preço; Te adorando pelo avesso; Pra mostrar que ainda sou tua Fui assim levando; Ele a me levar. Tantas palavras que ela gostava; E repetia só por gostar Preciso não dormir; Até se consumar; O tempo da gente Cada paralelepípedo da velha cidade; essa noite vai se arrepiar Se instalou feito um posseiro dentro do meu coração. Se você sentir saudades, por favor, não dê na vista. Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista. Amo tanto e de tanto amar, acho que ela é bonita. Mulher de amigo meu é igual a muro alto: sei que é perigoso, mas eu trepo. O meu amigo secreto; Põe meu coração a balançar É desconcertante; Rever o grande amor Pois você sumiu no mundo sem me avisar; E agora eu era um louco a perguntar; O que é que a vida vai fazer de mim? Ilusão, Ilusão; Veja as coisas como elas são Alô, liberdade. Desculpa eu vir assim sem avisar, mas já era tarde. Me esquenta porque o cobertor é curto. Quando olhaste bem nos olhos meus; E o teu olhar era de adeus; Juro que não acreditei Uma saideira, muita saudade e a leve impressão de que já vou tarde. Hoje eu sou da maneira que você me quer. Pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado desprezar quem lhe quer bem? Estava indiferente; Logo me comovo; Pra ficar contente; Porque é Ano-novo Esse silêncio todo me atordoa; Atordoado eu permaneço atento Eu bem que avisei, vai acabar. De tudo lhe dei para aceitar, mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar. Você que inventou o pecado, esqueceste de inventar o perdão. Como conseguir ser apaixonado todos os dias, seja pela vida, seja por alguém. Sala sem mobília; Goteira na vasilha; Problema na família. Quem não tem? Vem, mas vem sem fantasia. Leva o que há de ti, que a saudade dói latejada. Eu te murmuro; Eu te suspiro; Eu, que soletro teu nome no escuro Mas uma vez na vida; Eu vou viver a vida que eu pedi a Deus Desbanca a outra; A tal que abusa; De ser tão maravilhosa Hoje na solidão ainda custo; A entender como o amor foi tão injusto; Prá quem só lhe foi dedicação Deixe em paz meu coração que ele é um pote até aqui de mágoa. Mas devo dizer que não vou lhe dar; O enorme prazer de me ver chorar Espalha os meus soldados; Estraga os meus brinquedos; Pode me odiar; Nunca mais olhar pra mim; Mas não faz; Não faz mais assim Junto a mim morava minha amada; Com olhos claros como o dia; Lá o meu olhar vivia de sonho e fantasia; E a dona dos olhos nem via Nossa canção incompleta pode esperar vinte anos Quando chegar o momento; Esse meu sofrimento; Vou cobrar com juros. Juro! Saudade mata a gente, menina. Saudade engole a gente, menina. Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz; Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz A gente quase não se vê; Eu só queria me lembrar; Me dê noticia de você; Me deu vontade de voltar Aliás, aceite uma ajuda do seu futuro amor. Então; Disfarçar minha dor eu não consigo; Dizer: somos sempre bons amigos; É muita mentira para mim Eu vou rasgar meu coração; Pra costurar o teu Sem carinho, sem coberta; No tapete atrás da porta; Reclamei baixinho Puseram uma usina no mar; Talvez fique ruim pra pescar meu amor Faça como eu digo; Faça como eu faço; Aja duas vezes antes de pensar Foi tão bonito você me emprestar a vida assim; Ver que eu não tinha saída e seguir por onde eu vim Diz se é perigoso a gente ser feliz O amor faz ondas redondas até quebrar como eu quero. Para sempre é sempre por um triz Toda sessão ela virava uma atriz E se eu pudesse entrar na sua vida... ... A saudade é o pior tormento, é pior do que o esquecimento... É sempre bom lembrar que um copo vazio esta cheio de ar. Me responde, por favor. Pra onde vai o meu amor... Quando o amor acaba? Tantas palavras que ela falava; Ditas de novo não são iguais

Mesmo que vocÊ fuja de mim Por labirintos e alçapões saiba que os poetas como os cegos podem ver no escuro. E eis que,menos sábios do que antes Os seus lãbios ofegantes Hão de se entregar assim: ME LEVE ATÉ O FIM!

Minha mãe sempre diz:Não há dor que dure para sempre! Tudo é vário.Temporário.Efêmero.Nunca somos,sempre estamos! E apesar de saber de tudo isso.Porque algumas dores duram tanto? Porque alguns sentimentos(diga-se de passagem os mais ridículos) demoram tanto a passar? Porque olhar pra ele reaviva esperanças perdidas e suscitas lágrimas quentes até então contidas? Porque o cérebro ainda não inculcou no coração que esquecer faz bem a sáude? Porque tudo não pode ser como um bonito filme francês?

Não se afobe, não Que nada é pra já O amor não tem pressa Ele pode esperar em silêncio Num fundo de armário Na posta-restante Milênios, milênios No ar (...) Não se afobe, não Que nada é pra já Amores serão sempre amáveis Futuros amantes, quiçá Se amarão sem saber Com o amor que eu um dia Deixei pra você

Agora eu era o rei Era o bedel e era também juiz E pela minha lei A gente era obrigado a ser feliz E você era a princesa que eu fiz coroar E era tão linda de se admirar Que andava nua pelo meu país

Trocando em Miúdos Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim Não me valeu Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim! O resto é seu Trocando em miúdos, pode guardar As sobras de tudo que chamam lar As sombras de tudo que fomos nós As marcas de amor nos nossos lençóis As nossas melhores lembranças Aquela esperança de tudo se ajeitar Pode esquecer Aquela aliança, você pode empenhar Ou derreter Mas devo dizer que não vou lhe dar O enorme prazer de me ver chorar Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago Meu peito tão dilacerado Aliás Aceite uma ajuda do seu futuro amor Pro aluguel Devolva o Neruda que você me tomou E nunca leu Eu bato o portão sem fazer alarde Eu levo a carteira de identidade Uma saideira, muita saudade E a leve impressão de que já vou tarde.

Talvez nem me queira bem; Porém faz um bem que ninguém me faz.

Eu faço samba e amor até mais tarde E tenho muito sono de manhã

Quando chegar o momento, esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro.

Eu vou rasgar meu coração pra costurar o teu.

Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de ´desinventar´.

Mesmo com o todavia Com todo dia Com todo ia Todo não ia A gente vai levando

És pagina virada; Descartada do meu folhetim.

Não me leve a mal; Me leve à toa pela última vez

Sinto que, ao cruzar a cancela, não estarei entrando em algum lugar, mas saindo de todos os outros.

Não tem mais jeito, a gente não tem cura.

O nosso amor é tão bom. O horário é que nunca combina.

Ontem vi tudo acabado, meu céu desastrado, medo, solidão, ciúme. Hoje contei as estrelas e a vida parece um filme.

Acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus.

E pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz.

Mesmo que você fuja de mim Por labirintos e alçapões Saiba que os poetas como os cegos Podem ver na escuridão

O nosso amor é tão bom; O horário é que nunca combina

Não há mais porta, mas também não tenho mais vontade de entrar

Eu por mim sonhava com você em todas as cores, mas meus sonhos são que nem cinema mudo, e os atores já morreram há tempos.

E urgia compreender melhor o desejo que me descontrolara, eu nunca havia sentido coisa semelhante. Se desejo era aquilo, posso dizer que antes de Matilde eu era casto.

Não sei por que você não me alivia a dor. Todo dia a senhora levanta a persiana com bruteza e joga sol no meu rosto. Não sei que graça pode achar dos meus esgares, é uma pontada cada vez que respiro. Às vezes aspiro fundo e encho os pulmões de um ar insuportável, para ter alguns segundos de conforto, expelindo a dor. Mas bem antes da doença e da velhice, talvez minha vida já fosse um pouco assim, uma dorzinha chata a me espetar o tempo todo, e de repente uma lambada atroz. Quando perdi minha mulher, foi atroz. E qualquer coisa que eu recorde agora, vai doer, a memória é uma vasta ferida. Mas nem assim você me dá os remédios, você é meio desumana.

Daí a eterna impaciência, e adoro ver seus olhos de rapariga rondando a enfermaria: eu, o relógio, a televisão, o celular, eu, a cama do tetraplégico, o soro, a sonda, o velho do Alzheimer, o celular, a televisão, eu, o relógio de novo, e não deu nem um minuto. Também acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus, para pensar no galã da novela, nas mensagens do celular, na menstruação atrasada.

Eu já a tinha visto de relance umas vezes, na saída da missa das onze, ali mesmo na igreja da Candelária. Na verdade nunca a pude observar direito, porque a menina não parava quieta, falava, rodava e se perdia entre as amigas, balançando os negros cabelos cacheados. Saía da igreja como quem saísse do cinema Pathé, onde na época exibiam fitas em série americanas. Mas agora, no momento em que o órgão dava a introdução para o ofertório, bati sem querer os olhos nela, desviei, voltei a mirá-la e não a pude mais largar. Porque assim suspensa e de cabelos presos, mais intensamente ela era ela em seu balanço guardado, seu tumulto interior, seus gestos e risos por dentro, para sempre, ai. Então, não sei como, em plena igreja me deu grande vontade de conhecer sua quentura. Imaginei que abraçá-la de surpresa, para ela pulsar e se debater contra o meu peito, seria como abafar nas mãos o passarinho que capturei na infância. Estava eu com essas fantasias profanas, quando minha mãe me to¬mou pelo braço para a comunhão. Hesitei, remanchei um pouco, não me sentia digno do sacramento, mas recusá-lo à vista de todos seria um desacato. Com certo medo do inferno, fui afinal me ajoelhar ao pé do altar e cerrei os olhos para receber a hóstia sagrada. Quando os reabri, Matilde se virava para mim e sorria, sentada ao órgão que não era mais um órgão, era o piano de cauda da minha mãe. Tinha os cabelos molhados sobre as costas nuas, mas acho que agora já entrei no sonho.

Bom dia, flor do dia, mas deve haver modos menos agourentos de se despertar que com uma filha choramingando à cabeceira. E pelo visto, mais uma vez você veio sem os meus cigarros, que dirá os charutos. Que é proibido fumar aqui dentro eu sei, mas dá-se um jeito, também não estou lhe pedindo para entrar no hospital com cocaína.

Eu também gostaria de ter conhecido meu trisavô, gostaria que meu pai me acompanhasse mais um pouco, gostaria sobretudo que Matilde me sobrevivesse, e não o contrário. Não sei se existe um destino, se alguém o fia, enrola, corta. Nos dedos de alguma fiandeira, provavelmente a linha da vida de Matilde seria de fibra melhor que a minha, e mais extensa. Mas muitas vezes uma vida para no meio do caminho, não por ser a linha curta, e sim tortuosa. Depois que me deixou, nem posso imaginar quantas aflições Matilde teve em sua existência. Sei que a minha se alongou além do suportável, como linha que se esgarça. Sem Matilde, eu andava por aí chorando alto, talvez como aqueles escravos libertos de que se fala. Era como se a cada passo eu me rasgasse um pouco, por¬que minha pele tinha ficado presa naquela mulher.

Se soubesse como gosto das suas cheganças, você chega¬ria correndo todo dia. É a única mulher que ainda me estima, se você me faltar morro de inanição. Sem você me enterrariam como indigente, meu passado se apaga¬ria, ninguém registraria a minha saga.

A dor da gente não sai no jornal

Já foi provado...quem espera nunca alcança!

E quando ela está nos meus braços; As tristezas parecem banais; O meu coração aos pedaços; Se remenda prum número a mais.

Eu tô só vendo, sabendo, Sentindo, escutando e não posso falar... Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

E quem me ofende, humilhando, pisando, Pensando que eu vou aturar... Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Talvez seja da minha natureza não me sentir pertencendo totalmente a lugar nenhum, em lugar nenhum.

Pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem?

Minha mãe sempre diz: Não há dor que dure para sempre! Tudo é vário. Temporário. Efêmero. Nunca somos, sempre estamos. E apesar de saber de tudo isso porque algumas dores duram tanto?

Tantos rodeios pra enfim me roubar; Coisas que dele já são

Já passou, já passou. Se você quer saber, eu já sarei, já curou. Me pegou de mal jeito mas não foi nada, estancou.

Aquela esperança de tudo se ajeitar… Pode esquecer.

A saudade é o pior tormento. é pior do que o esquecimento.

Ouça um bom conselho que eu lhe dou de graça: inútil dormir que a dor não passa. Espere sentado ou você se cansa. Está provado, quem espera nunca alcança.

E nada como um tempo após um contratempo pro meu coração.

Eu quero fazer silêncio Um silêncio tão doente Do vizinho reclamar E chamar polícia e médico E o síndico do meu tédio Pedindo pra eu cantar

Ela esquenta a papa do neto Ele quase que fez fortuna Vão viver sob o mesmo teto até que a morte os una até que a morte os una

Como num romance O homem dos meus sonhos Me apareceu no dancing Era mais um Só que num relance Os seus olhos me chuparam Feito um zoom

Lá no morro De amor o sangue corre moça chorando Que o verdadeiro amor sempre é o que morre

Alô, liberdade. Desculpa eu vir assim sem avisar, mas já era tarde. Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar. E por fugir ao contrário, sinto-me duas vezes mais veloz Vem, mas vem sem fantasia. É sempre bom lembrar que um copo vazio esta cheio de ar.

Agora já não é normal O que dá de malandro regular, profissional Malandro com aparato de malandro oficial Malandro candidato a malandro federal Malandro com retrato na coluna social Malandro com contrato, com gravata e capital Que nunca se dá mal…

Ouça um bom conselho que eu lhe dou de graça: inútil dormir que a dor não passa. Espere sentado, ou você se cansa. Está provado: quem espera nunca alcança. Faça como eu digo, faça como eu faço; aja duas vezes antes de pensar. Corro atrás do tempo. Vim de não sei d’onde… devagar é que não se vai longe. Eu semeio o vento na minha cidade, vou pra rua e bebo a tempestade.

Tudo está na natureza encadeado e em movimento – cuspe, veneno, tristeza, carne, moinho, lamento, ódio, dor, cebola e coentro, gordura, sangue, frieza, isso tudo está no centro de uma mesma e estranha mesa. Misture cada elemento – uma pitada de dor, uma colher de fomento, uma gota de terror. O suco dos sentimentos, raiva, medo ou desamor, produz novos condimentos, lágrima, pus e suor, mas, inverta o segmento, intensifique a mistura, temperódio, lagrimento, sangalho com tristezura, carnento, venemoinho, remexa tudo por dentro, passe tudo no moinho, moa a carne, sangre o coentro, chore e envenene a gordura: você terá um ungüento, uma baba, grossa e escura, essência do meu tormento e molho de uma fritura de paladar violento que, engolindo, a criatura repara o meu sofrimento coa morte, lenta e segura. Eles pensam que a maré vai, mas nunca volta. Até agora eles estavam comandando o meu destino e eu fui, fui, fui, fui recuando, recolhendo fúrias. Hoje eu sou onda solta e tão forte quanto eles me imaginam fraca. Quando eles virem invertida a correnteza, quero saber se eles resistem à surpresa, quero ver como eles reagem à ressaca. Meus filhos, vocês vão lá na solenidade, digam à moça que a mamãe está contente tanto assim que lhe preparou este presente pra que ela prove como prova de amizade. Beijem seu pai, lhe desejem felicidade co’a moça e voltem correndo, que eu e vocês também vamos comemorar, sós, só nós três, vamos mastigar um naco de eternidade.

Canção de Pedroca Quando nos apaixonamos Poça dágua é chafariz Ao olhar o céu de Ramos Vê-se as luzes de Paris No verão é uma delícia A brisa fresca de Bangu Mesmo um cabo de polícia Só nos diz merci beaucoup Eu ouço um samba de breque Com Maurice Chevalier Bebo com Toulouse Lautrec No bar do Caxinguelê Daí ninguém mais estranha O Louvre na Praça Mauá E o borbulhar de champanha Num gole de guaraná Cascadura é Rive Gauche O Mangue é Champs Elisées Até mesmo um bate-coxa Faz lembrar um pas-de-deux Purê de batata roxa Parece marron glacé

Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo. Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora…

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz O meu amor tem um jeito manso que é só seu Que me deixa maluca, quando me roça a nuca E quase me machuca com a barba mal feita E de pousar as coxas entre as minhas coxas Quando ele se deita

Eu vou virar artista Ficar famosa, falar inglês Autografar com as unhas Eu vou, nas costas do meu freguês

Ao povo nossas carícias Ao povo nossas carências Ao povo nossas delícias E nossas doenças

Já gozei de boa vida Tinha até meu bangalô Cobertor, comida Roupa lavada Vida veio e me levou

De que me vale ser filho da santa? Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta Tanta mentira, tanta força bruta

Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de baixo Que eu sou professor

Eu gostava de falar mal do governo quando os jornais não o faziam.

Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio o vento Na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade

Sou bandida Sou solta na vida E sob medida Pros carinhos teus Meu amigo Se ajeite comigo E dê graças a Deus

Acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus, ou quando sua risada se confunde com a minha.

Às vezes o que a gente procura, não é o que a gente procura. É o que a gente encontra.

E quando ela está nos meus braços; As tristezas parecem banais; O meu coração aos pedaços; Se remenda prum número a mais

Acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus, ou quando sua risada se confunde com a minha.”

Não sei se você ainda é o mesmo Ou se cortou os cabelos Rasgou o que é meu Se ainda tem saudades.

Ah! felicidade Em que vagão de trem noturno viajarás?

Eu trago o peito tão marcado De lembranças do passado

E quando eu me apaixonei Não passou de ilusão, o seu nome rasguei Fiz um samba canção das mentiras de amor Que aprendi com você

Acorda amor Não é mais pesadelo nada

mor, eu me lembro ainda Que era linda, muito linda Um céu azul de organdi A camisola do dia Tão transparente e macia Que eu dei de presente a ti Tinha rendas de Sevilha A pequena maravilha Que o teu corpinho abrigava E eu, eu era o dono de tudo Do divino conteúdo Que a camisola ocultava A camisola que um dia Guardou a minha alegria Desbotou, perdeu a cor Abandonada no leito Que nunca mais foi desfeito Pelas vigílias de amor

Criei barriga, a minha mula empacou Mas vou até o fim Não tem cigarro acabou minha renda Deu praga no meu capim Minha mulher fugiu com o dono da venda O que será de mim ? Eu já nem lembro pronde mesmo que eu vou Mas vou até o fim

Eu quero que mamãe me veja pintando a boca em coração Será que vai morrer de inveja ou não Ai, se papai me pega agora abrindo o último botão Será que ele me leva embora ou não Será que fica enfurecido será que vai me dar razão Chorar o seu tempo vivido em vão

É uma cova grande pra tua carne pouca Mas a terra dada, não se abre a boca É a conta menor que tiraste em vida É a parte que te cabe deste latifúndio É a terra que querias ver dividida Estarás mais ancho que estavas no mundo Mas a terra dada, não se abre a boca.

Quando você me quiser rever, já vai me encontrar refeita, pode crer. Olhos nos olhos, quero ver o que você faz,ao sentir que sem você, eu passo bem demais. E que venho até remoçando, que me pego até cantando, sem mais, nem porquê. Quando talvez precisar de mim, cê sabe que a casa é sua, venha sim! Olhos nos olhos, quero ver o que você diz, quero ver como suporta me ver tão feliz!!

O meu amor tem um jeito manso que é só seu, que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos com tantos segredos lindos e indecentes. Depois brinca comigo, ri do meu umbigo, e me crava os dentes. Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz. Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz.

Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar, mas se o destino insestir em nos separar; danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas, os buzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos, sinopses, espelhos, conselhos, que se dane o evangelho e todos os orixás, serás o meu amor, serás a minha paz.

Sei que a noite inteira eu vou cantar Até segunda feira Quando volto a trabalhar, morena Sei que não preciso me inquietar Até segundo aviso Você prometeu me amar Por isso eu conto a quem encontro pela rua Que meu samba é seu amigo Que a minha casa é sua Que meu peito é seu abrigo Meu trabalho, seu sossego Seu abraço, meu emprego Quando chego No meu lar, morena.

Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz e atrás dessa mulher mil homens, sempre tão gentis. Por isso, para o seu bem, ou tire ela da cabeça ou mereça a moça que você tem.

A Rita levou meu sorriso. No sorriso dela, Meu assunto. Levou junto com ela, O que me é de direito. Arrancou-me do peito.

Sei que há léguas a nos separar Tanto mar, tanto mar Sei, também, que é preciso, pá Navegar, navegar Lá faz primavera, pá Cá estou doente Manda urgentemente Algum cheirinho de alecrim

Ah, eu quero te dizer Que o instante de te ver Custou tanto penar Não vou me arrepender Só vim te convencer Que eu vim pra não morrer De tanto te esperar

Então! Disfarçar minha dor Eu não consigo dizer: Somos sempre bons amigos É muita mentira para mim...

Pois eu sonhei contigo e caí da cama. Ai, amor, não briga! Ai, não me castiga! Ai, diz que me ama e eu não sonho mais!

Roda mundo, roda gigante Roda moinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração...

Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou. E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor, depois da banda passar...

É preciso sempre desconfiar das coisas fáceis.

Esse silêncio todo me atordoa; Atordoado eu permaneço atento

Quando você me quiser rever Já vai me encontrar refeita, pode crer. Olhos nos olhos, Quero ver o que você faz Ao sentir que sem você eu passo bem demais E que venho até remoçando, Me pego cantando, sem mais, nem por quê. Tantas águas rolaram, Quantos homens me amaram Bem mais e melhor que você. Quando talvez precisar de mim, Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim. Olhos nos olhos, Quero ver o que você diz. Quero ver como suporta me ver tão feliz.

E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês Esperando, esperando, esperando, esperando o sol Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem Esperando a festa, esperando a sorte E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também

- Quem é você? - Adivinha, se gosta de mim! Hoje os dois mascarados Procuram os seus namorados Perguntando assim: - Quem é você, diga logo... - Que eu quero saber o seu jogo... - Que eu quero morrer no seu bloco... - Que eu quero me arder no seu fogo. - Eu sou seresteiro, Poeta e cantor. - O meu tempo inteiro Só zombo do amor. - Eu tenho um pandeiro. - Só quero um violão. - Eu nado em dinheiro. - Não tenho um tostão. Fui porta-estandarte, Não sei mais dançar. - Eu, modéstia à parte, Nasci pra sambar. - Eu sou tão menina... - Meu tempo passou... - Eu sou Colombina! - Eu sou Pierrô! Mas é Carnaval! Não me diga mais quem é você! Amanhã tudo volta ao normal. Deixa a festa acabar, Deixa o barco correr. Deixa o dia raiar, que hoje eu sou Da maneira que você me quer. O que você pedir eu lhe dou, Seja você quem for, Seja o que Deus quiser! Seja você quem for, Seja o que Deus quiser!

Sem açúcar Todo dia ele faz diferente Não sei se ele volta da rua Não sei se me traz um presente Não sei se ele fica na sua Talvez ele chegue sentido Quem sabe me cobre de beijos Ou nem me desmancha o vestido Ou nem me adivinha os desejos Dia ímpar tem chocolate Dia par eu vivo de brisa Dia útil ele me bate Dia santo ele me alisa Longe dele eu tremo de amor na presença dele me calo Eu de dia sou sua flor Eu de noite sou seu cavalo A cerveja dele é sagrada A vontade dele é a mais justa A minha paixão é piada A sua risada me assusta Sua boca é um cadeado E meu corpo é uma fogueira Enquanto ele dorme pesado Eu rolo sozinha na esteira