Livros de Chico Buarque

Sobre o Autor

Chico Buarque

Chico Buarque de Hollanda (19 de junho de 1944, Rio de Janeiro), músico brasileiro. É considerado um dos maiores nomes da MPB - Música Popular Brasileira.

Melhores Livros de Chico Buarque

Acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus, ou quando sua risada se confunde com a minha.

Sou bandida Sou solta na vida E sob medida Pros carinhos teus Meu amigo Se ajeite comigo E dê graças a Deus

Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio o vento Na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade

Eu gostava de falar mal do governo quando os jornais não o faziam.

Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de baixo Que eu sou professor

De que me vale ser filho da santa? Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta Tanta mentira, tanta força bruta

Já gozei de boa vida Tinha até meu bangalô Cobertor, comida Roupa lavada Vida veio e me levou

Ao povo nossas carícias Ao povo nossas carências Ao povo nossas delícias E nossas doenças

Eu vou virar artista Ficar famosa, falar inglês Autografar com as unhas Eu vou, nas costas do meu freguês

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz O meu amor tem um jeito manso que é só seu Que me deixa maluca, quando me roça a nuca E quase me machuca com a barba mal feita E de pousar as coxas entre as minhas coxas Quando ele se deita

Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo. Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora…

Canção de Pedroca Quando nos apaixonamos Poça dágua é chafariz Ao olhar o céu de Ramos Vê-se as luzes de Paris No verão é uma delícia A brisa fresca de Bangu Mesmo um cabo de polícia Só nos diz merci beaucoup Eu ouço um samba de breque Com Maurice Chevalier Bebo com Toulouse Lautrec No bar do Caxinguelê Daí ninguém mais estranha O Louvre na Praça Mauá E o borbulhar de champanha Num gole de guaraná Cascadura é Rive Gauche O Mangue é Champs Elisées Até mesmo um bate-coxa Faz lembrar um pas-de-deux Purê de batata roxa Parece marron glacé

Tudo está na natureza encadeado e em movimento – cuspe, veneno, tristeza, carne, moinho, lamento, ódio, dor, cebola e coentro, gordura, sangue, frieza, isso tudo está no centro de uma mesma e estranha mesa. Misture cada elemento – uma pitada de dor, uma colher de fomento, uma gota de terror. O suco dos sentimentos, raiva, medo ou desamor, produz novos condimentos, lágrima, pus e suor, mas, inverta o segmento, intensifique a mistura, temperódio, lagrimento, sangalho com tristezura, carnento, venemoinho, remexa tudo por dentro, passe tudo no moinho, moa a carne, sangre o coentro, chore e envenene a gordura: você terá um ungüento, uma baba, grossa e escura, essência do meu tormento e molho de uma fritura de paladar violento que, engolindo, a criatura repara o meu sofrimento coa morte, lenta e segura. Eles pensam que a maré vai, mas nunca volta. Até agora eles estavam comandando o meu destino e eu fui, fui, fui, fui recuando, recolhendo fúrias. Hoje eu sou onda solta e tão forte quanto eles me imaginam fraca. Quando eles virem invertida a correnteza, quero saber se eles resistem à surpresa, quero ver como eles reagem à ressaca. Meus filhos, vocês vão lá na solenidade, digam à moça que a mamãe está contente tanto assim que lhe preparou este presente pra que ela prove como prova de amizade. Beijem seu pai, lhe desejem felicidade co’a moça e voltem correndo, que eu e vocês também vamos comemorar, sós, só nós três, vamos mastigar um naco de eternidade.

Ouça um bom conselho que eu lhe dou de graça: inútil dormir que a dor não passa. Espere sentado, ou você se cansa. Está provado: quem espera nunca alcança. Faça como eu digo, faça como eu faço; aja duas vezes antes de pensar. Corro atrás do tempo. Vim de não sei d’onde… devagar é que não se vai longe. Eu semeio o vento na minha cidade, vou pra rua e bebo a tempestade.

Agora já não é normal O que dá de malandro regular, profissional Malandro com aparato de malandro oficial Malandro candidato a malandro federal Malandro com retrato na coluna social Malandro com contrato, com gravata e capital Que nunca se dá mal…

Alô, liberdade. Desculpa eu vir assim sem avisar, mas já era tarde. Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar. E por fugir ao contrário, sinto-me duas vezes mais veloz Vem, mas vem sem fantasia. É sempre bom lembrar que um copo vazio esta cheio de ar.

Lá no morro De amor o sangue corre moça chorando Que o verdadeiro amor sempre é o que morre

Como num romance O homem dos meus sonhos Me apareceu no dancing Era mais um Só que num relance Os seus olhos me chuparam Feito um zoom

Ela esquenta a papa do neto Ele quase que fez fortuna Vão viver sob o mesmo teto até que a morte os una até que a morte os una

Eu quero fazer silêncio Um silêncio tão doente Do vizinho reclamar E chamar polícia e médico E o síndico do meu tédio Pedindo pra eu cantar

E nada como um tempo após um contratempo pro meu coração.

Ouça um bom conselho que eu lhe dou de graça: inútil dormir que a dor não passa. Espere sentado ou você se cansa. Está provado, quem espera nunca alcança.

A saudade é o pior tormento. é pior do que o esquecimento.

Aquela esperança de tudo se ajeitar… Pode esquecer.

Já passou, já passou. Se você quer saber, eu já sarei, já curou. Me pegou de mal jeito mas não foi nada, estancou.

Tantos rodeios pra enfim me roubar; Coisas que dele já são

Minha mãe sempre diz: Não há dor que dure para sempre! Tudo é vário. Temporário. Efêmero. Nunca somos, sempre estamos. E apesar de saber de tudo isso porque algumas dores duram tanto?

Pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem?

Talvez seja da minha natureza não me sentir pertencendo totalmente a lugar nenhum, em lugar nenhum.

E quem me ofende, humilhando, pisando, Pensando que eu vou aturar... Tô me guardando pra quando o carnaval chegar