Livros de Cesare Pavese

Todos os pecados têm origem num sentido de inferioridade, também chamado ambição.

Sobre o Autor

Cesare Pavese

Cesare Pavese (9 de setembro de 1908, em Santo Stefano Belbo, Cuneo, Itália - 27 de agosto de 1950, em Torino, Itália) foi um escritor e poeta italiano.

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Mais frases de Cesare Pavese

Todos os pecados têm origem num sentido de inferioridade, também chamado ambição.

Em suma, todo o problema da vida é este: como romper a própria solidão, como comunicar-se com os outros.

A bondade que nasce do cansaço de sofrer é um horror pior do que o sofrimento.

A dificuldade de praticar o suicídio está nisto: é um ato de ambição que só pode ser realizado depois de superada toda a espécie de ambição.

As coisas são descobertas por meio das lembranças que se têm delas. Relembrar uma coisa significa vê-la - apenas agora - pela primeira vez.

O sexo é um acidente: o que dele recebemos é momentâneo e casual; visamos a algo mais secreto e misterioso do qual o sexo é apenas um sinal, um símbolo.

A imaginação humana é imensamente mais pobre do que a realidade.

Quando se sofre, julga-se que para lá do círculo existe a felicidade; quando não se sofre, sabe-se que a felicidade não existe e sofre-se, então, por não sofrer.

Todo o luxo se paga. Tudo é luxo; a começar pelo estar no mundo.

A falsidade eterna da poesia é que nela os acontecimentos decorrem num tempo diferente do real.

O homem interessa-se tão pouco pelo próximo que até mesmo o cristianismo recomenda fazer o bem por amor a Deus.

A religião consiste em acreditar que tudo aquilo que nos acontece é extraordinariamente importante. Nunca poderá desaparecer do mundo, justamente por essa razão.

Fazer poesia é como fazer amor: nunca se saberá se a própria alegria é compartilhada.

Em geral, quem não sabe dar um sentido à própria vida dispõe-se por profissão a sacrificar-se.

Que importa viver com os outros quando cada um se está nas tintas para o que é importante para os outros?

Será um conforto pensar que a fraqueza pode ser uma força, como uma saúde delicada é uma defesa contra as doenças graves?

Ironia da vida: a mulher dá-se como prémio ao fraco e apoio ao forte, e nunca ninguém tem o que precisa.

Defender a ideia de que os nossos sucessos nos são concedidos pela Providência, e não pela astúcia, é uma astúcia a mais para aumentar aos nossos olhos a importância desses sucessos.

Para agradar aos homens é preciso professar o que cada um desses homens repudia e odeia na sua vida secreta.

Há algo mais triste que falharmos os nossos ideais: é termos conseguido realizá-los.

Amor é desejo de conhecimento.

A política é a arte do possível. Toda a vida é política.

É concebível que se mate uma pessoa para contarmos na vida dela? Então, é admissível que nos matemos para contar na nossa própria vida.

A vida sem fumo é como o fumo sem o assado.

Perdoamos aos outros quando nos convém.

Apenas o que passou, ou mudou, ou desapareceu, nos revela a sua verdadeira natureza.

É fácil ser-se bom quando se está apaixonado.

Deixa-se de ser jovem quando se compreende que de nada serve contar uma dor.

Se é verdade que nos habituamos à dor, como é que, com o andar dos anos, sofremos cada vez mais?

Dá-se a esmola para tirar da frente o miserável que a pede.

Afirmar que os nossos êxitos são devidos à Providência e não à habilidade, é uma esperteza mais para aumentar, aos nossos olhos, a importância desses êxitos.

Vencer em alguma coisa, seja no que for, é ambição, sórdida ambição. É lógico, portanto, recorrer aos meios mais sórdidos.

O único modo de escapar ao abismo é observá-lo, e medi-lo, e sondá-lo e descer para dentro dele.

O fascínio subtil das convalescenças consiste no seguinte: regressar aos velhos hábitos com a ilusão de os descobrir.

A única alegria no mundo é começar. É bom viver porque viver é começar sempre, a cada instante.

O amor tem a virtude, não apenas de desnudar dois amantes um em face do outro, mas também cada um deles diante de si próprio.

Nunca falta a ninguém uma boa razão para suicidar-se.

Não se deseja gozar. Deseja-se experimentar a vaidade de um prazer, para não se continuar obcecado por ele.

O castigo de quem pratica atos contra a natureza e que, quando quiser ser natural, já não o conseguirá. A história de Jekyll e Hyde.

Vingarmo-nos de um mal de que fomos vítimas é privarmo-nos do conforto de gritarmos contra a injustiça.

Chega uma época em que nos damos conta de que tudo o que fazemos se transformará em lembrança um dia. É a maturidade. Para alcançá-la, é preciso justamente já ter lembranças.

Os filósofos que acreditam na lógica absoluta da verdade nunca tiveram de travar uma discussão cerrada com uma mulher.

Para se desprezar o dinheiro é preciso justamente tê-lo, e muito.

Todo o crítico é exactamente como uma mulher na idade crítica: rancoroso e reprimido.

Se só a dor nos pode educar, pergunto porque é, filosoficamente, proibido encarniçarmo-nos contra o próximo, educando-o do melhor modo?.

Os erros são sempre iniciais.

Não existe vingança melhor de que aquela que os outros infligem ao teu inimigo. Tem até o mérito de deixar-te a parte do generoso.

A literatura é uma defesa contra as ofensas da vida.

Não conseguimos livrar-nos de uma coisa evitando-a, mas apenas atravessando-a.

É bom escrever porque reúne as duas alegrias: falar sozinho e falar a uma multidão.

Todas as paixões passam e se apagam, excepto as mais antigas, aquelas da infância.

O que conta para um artista não é a «experiência», é a experiência interior.

Não há absolutamente ninguém que faça um sacrifício sem esperar uma compensação. É tudo uma questão de mercado.

Não é bom ser criança: bom é, quando somos velhos, pensar em quando éramos crianças.

A ofensa mais atroz que se pode fazer a um homem é negar-lhe que sofra.

É estupidez entristecermo-nos pela perda de uma companhia: podíamos nunca ter encontrado essa pessoa, portanto, podemos dispensá-la.

O louco tem inimigos. O sonhador tem-se apenas a si próprio.

Sofrer não serve para nada / Sofrer limita a eficiência espiritual / Sofrer é sempre culpa nossa / Sofrer é uma fraqueza.

Porque é desaconselhável perder a cabeça? Porque, então, se é sincero.

Uma só criatura ensina mais do que cem.

A morte é o repouso, mas o pensamento da morte é o perturbador de todo o repouso.

Dêem uma companhia ao solitário e ele falará mais do que qualquer pessoa.

Odeiam-se os outros porque se odeia a si mesmo.

O ócio torna as horas lentas e os anos velozes. A actividade torna as horas rápidas e os anos lentos.

Os suicídios são homicídios tímidos. Masoquismo em vez de sadismo.

Existe algo mais triste do que envelhecer: permanecer criança.

Toda a arte é um problema de equilíbrio entre dois opostos.

Aquele que não tem ciúmes, até mesmo das calcinhas da bem-amada, não está apaixonado.

A verdadeira solidão, isto é, aquela que faz sofrer, traz consigo o desejo de matar.

Os lugares onde foste feliz, tornam-se inabitáveis

Esperar é ainda uma ocupação. Terrível é não ter nada que esperar.

Il est beau décrire parce que cela réunit les deux joies: parler seul et parler à une foule.

Uma mulher, que não seja estúpida, cedo ou tarde encontra um farrapo humano e tenta salvá-lo. Às vezes consegue. Porém, uma mulher, que não seja estúpida, cedo ou tarde encontra um homem são e reduze-o a um farrapo. Sempre consegue.

Disciplina Antiga Os que bebem não sabem falar às mulheres,se perderam de tudo, e ninguém os aceita. Andam lentos na rua, e as ruas e postes não têm fim. Alguns deles dão giros mais longos, mas não há o que temer:amanhã eles voltam para casa. O que bebe imagina que está com mulheres-como postes à noite são sempre os mesmos, assim as mulheres são sempre as mesmas-; nenhuma o escuta. Mas o bêbado tenta, e as mulheres não o querem. As mulheres, que riem, conhecem de cor suas palavras. Por que riem assim as mulheres ou gritam, se choram? O homem bêbado quer e deseja uma bêbada que o ouvisse calada. Mas elas o atiçam:Para ter esse filho, é preciso contar com a gente. O homem bêbado abraça-se ao bêbado amigo que esta noite é seu filho, nascido sem elas. Como pode umazinha que chora e que grita dar-lhe um filho amigo? Se aquele é um bêbado, não recorda as mulheres no andar inseguro, e esses dois perambulam em paz. O filhinho que conta não nasceu de mulher- pois seria mulher também ele. Caminha com o pai e conversa:toda a noite iluminam-lhe os passos os postes.